Como o excesso de informação afeta a nossa saúde
Nossa mente pode ficar sobrecarregada diante da alta carga de estímulos do dia a dia
Notificação do aplicativo de notícias, e-mail com demandas do trabalho, mensagens não respondidas se acumulando no WhatsApp, ligação de telemarketing, campainha tocando com a chegada de uma encomenda, novos episódios daquela série que você acompanha…
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É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, né? E esse excesso de informação mexe com a gente. É como se muitas abas de navegação estivessem abertas não no computador, mas na nossa cabeça.
No fundo, o que tentamos fazer é dar atenção a todas as atividades de uma só vez. Acontece que nós não funcionamos bem no modo multitarefa. Realizar várias tarefas ao mesmo tempo eleva a nossa produção de cortisol (o hormônio do estresse) e da adrenalina.
Isso pode superestimular o cérebro, causando confusão mental e atrapalhando nossa linha de raciocínio, conforme explica o neurocientista e psicólogo cognitivo Daniel J. Levitin, no livro “A mente organizada: como pensar com clareza na era da sobrecarga de informação”.
O modo multitarefa também nos cansa com uma certa rapidez. Alternar frequentemente de uma atividade para outra faz com que nosso cérebro consuma bastante glicose, o que pode nos deixar exaustos após curtos períodos e gerar impactos físicos e cognitivos. Além disso, nosso desempenho acaba não sendo muito satisfatório.
Mesmo diante desses prejuízos, ainda assim é difícil não dividir nossa atenção entre as coisas, né? De acordo com Levitin, a explicação para isso está no próprio cérebro. O córtex pré-frontal, responsável por nos manter concentrados em uma tarefa, é atraído por novidades.
Ou seja, ele se distrai facilmente com novos estímulos. Quando isso ocorre, nosso organismo é “recompensado” com uma dose de dopamina (um neurotransmissor associado à sensação de prazer). E o resultado? Bom, se estamos no modo multitarefa, entramos em um looping vicioso de dopamina.
As consequências para a saúde mental
Embora a dopamina esteja ligada ao prazer, não é uma boa ficarmos presos a esse ciclo. Nosso organismo pode achar que está sendo recompensado quando, na verdade, estamos repetindo comportamentos nocivos para o nosso bem-estar — e dos quais nem sempre é fácil se desprender.
Exemplo do malefício do excesso de informação para a nossa saúde mental é a ansiedade. Esse é um transtorno no qual o paciente fica em estado de alerta e constantemente preocupado com o futuro. Saber que temos acesso a uma série de informações a qualquer momento pode contribuir para sustentar esse estado de alerta.
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“Se eu acreditar que preciso saber de tudo o tempo todo, não vou conseguir relaxar e nem me concentrar de verdade nas informações que estou adquirindo, já que sempre existirão outras”, explica a psicóloga Carolina Thans Bartolomeu, membro do Grupo de Dependências Tecnológicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
E mais: antes da internet ser amplamente difundida, as informações eram bem mais limitadas. As pessoas não tinham tanta noção daquilo que elas não sabiam. Hoje, acontece o contrário. A tecnologia parece um lembrete permanente do quanto não sabemos — mas poderíamos saber. Sentimos, inclusive, a necessidade de estarmos 100% atualizados.
Só que isso não é possível. “Não é viável e nem saudável estarmos conectados e inteirados de tudo o tempo todo”, destaca Bartolomeu. Nossa mente literalmente não aguenta. Segundo a teoria da carga cognitiva, do psicólogo australiano John Sweller, o cérebro não consegue processar todos os estímulos que recebemos em uma única tacada.
O caminho é, basicamente, o seguinte: a informação chega até nós, é captada pela memória de curto prazo (que tem um limite de armazenamento), depois se junta às informações que já estão guardadas na memória de longo prazo e, por fim, é consolidada.
“Se recebemos muitos estímulos de uma vez só, não conseguimos fazer essa seleção. Nós sobrecarregamos o cérebro e prejudicamos a consolidação das informações”, explica Bartolomeu.
E como não conseguimos controlar essa avalanche de informações que chega até nós, pode ser que esbarremos com coisas que nos fazem mal.
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“Recebemos informações sobre o que gostaríamos e o que não gostaríamos de saber, e o nosso inconsciente vai absorvendo”, constata Mariza Matheus, médica psiquiatra geral especialista em Psicologia Positiva. “Isso pode acabar cutucando alguma coisa dentro de nós e ativar o medo ou a insegurança”, complementa.
Outro perigo é acreditar em tudo que vemos por aí. E não estamos falando apenas de notícias falsas — que são um baita problema. Até uma checada despretensiosa nas redes sociais pode mexer com o nosso emocional.
Apesar de termos a sensação de que sabemos tudo sobre a vida das pessoas, é bom lembrar que cada um só compartilha aquilo que quer que os outros vejam. A vida de ninguém é perfeita.
“Quando alguém começa a se comparar com os outros na Internet, pode ter a falsa crença de que o mundo à sua volta deu certo, enquanto a vida dele não. Isso pode piorar, por exemplo, um quadro depressivo”, comenta Matheus.
Como lidar com o excesso de informação para viver melhor
Uma boa maneira para lidar com o excesso de informação do dia a dia é filtrar. “Precisamos selecionar o que vamos consumir, pensando em um equilíbrio entre quantidade e qualidade, avaliando se nos faz bem ou mal”, recomenda Bartolomeu.
E o primeiro passo para filtrar é ter consciência. Às vezes você tem a impressão de que está passando só um tempinho nas redes sociais. Mas já parou para contabilizar quantos minutos ou horas você, de fato, gasta?
É comum não ter uma noção real do quão ligados estamos às tecnologias. Elas ocupam um espaço tão grande na nossa vida que parecem até parte da gente. Por isso é preciso ficar atento e sair do automático.
“É a partir da consciência que a gente consegue criar novos hábitos”, diz Matheus. “Observe quanto espaço a tecnologia ocupa no seu dia e coloque limites, faça pausas necessárias”, recomenda a psiquiatra.
Aqui estão mais sugestões para não sobrecarregar nosso cérebro: