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Menopausa: por que ainda resistimos em falar dela?

Fase que marca o fim do período fértil das mulheres ainda é vista como tabu

Por Danielle SanchesPublicado em 23/12/2022, às 17:19 - Atualizado em 06/06/2023, às 15:08
Imagem: Shutterstock

Em setembro de 2022, a atriz Luana Piovani abriu o jogo ao dizer que estava na menopausa e fazendo reposição hormonal para amenizar seus sintomas. “Estou na menopausa o que tem uma vantagem ótima, não precisar mais ficar usando fralda [absorvente] todo mês, porém tem consequências chatas”, declarou. 

No caso de Luana, as consequências eram as crises de calor – um dos sintomas mais clássicos do período e que acomete muitas mulheres nessa fase da vida. No entanto, as mudanças no corpo ainda hoje são tratadas com certa reserva até mesmo nas rodas entre amigas. 

A também atriz Naomi Watts, por exemplo, descobriu que estava em transição para a menopausa enquanto tentava engravidar novamente, aos 36 anos. Quando começou a sentir os sintomas e tentou falar com os amigos, percebeu que estava sozinha – e preferiu ficar em silêncio. “Não havia detalhes sobre isso. Não havia apoio dos médicos”, relembrou durante uma apresentação em Nova York. 

Mas por que é tão difícil falar sobre esse processo se ele é inevitável? Talvez a resposta esteja nos significados que a menopausa traz com ela, um deles sendo justamente a questão do envelhecimento – um tema que, no geral, não é bem recebido em nenhuma roda de bar ou nos “trends” das redes sociais. 

“O envelhecimento tende a ser invisibilizado na nossa sociedade”, afirma a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), onde também é professora.

“No caso da mulher, que tem uma função social clara, quando ela termina esse período, ela se sente inútil e se retira, procura ser invisível, com medo da rejeição”, acredita.

O problema é que, diferente do que ocorria há alguns anos, hoje, com o aumento da expectativa de vida, a menopausa ocorre próximo à metade da vida da mulher – aos 48 anos para países da América Latina e 52 anos na Europa e América do Norte. 

“Ou seja, ela ainda vai viver muitos anos na menopausa”, afirma a especialista. E, assim como qualquer um deveria pensar no que fazer quando envelhecer, as mulheres também deveriam se informar e serem informadas sobre como será a vida uma vez que a capacidade reprodutiva se for – e quais as implicações que isso tem para a saúde do próprio corpo. 

Qual a definição correta de menopausa?

Quando falamos sobre menopausa, é comum encontrar o termo sendo usado para descrever o início dos sintomas causados pela oscilação hormonal do corpo feminino. Mas isso está errado. 

Clinicamente falando, a menopausa é a última menstruação, ou seja, o marco que encerra a vida reprodutiva das pessoas que menstruam (mulheres e homens trans). Isso é definido quando ela passa mais de um ano sem menstruar. 

Enquanto isso não ocorrer, é possível passar por meses de vai-e-vem, com menstruações irregulares e uma série de sintomas – como oscilações de humor e as famosas ondas de calor. A esse período de transição damos o nome de perimenopausa ou climatério

Em ambos os casos, o agente causador das mudanças é a queda na produção dos hormônios estrogênio e testosterona. Mas os efeitos, claro, são sentidos – em maior ou menor escala, dependendo da pessoa – já quando se inicia a redução na produção hormonal. 

“Os hormônios não deixam de ser produzidos de um dia para o outro”, afirma Joice Armelin, ginecologista e obstetra, de São Paulo. “Esse é um processo que pode se iniciar entre cinco e sete anos antes do fim da menstruação”, explica. 

Ou seja, muito antes dessa mulher estar de fato na menopausa, ela pode começar a sentir as repercussões dessa queda hormonal que vai acontecendo aos poucos em seu organismo. 

Arte: Andrea Petkevicius

Qual o impacto físico da menopausa?

Fogachos, insônia e alteração de humor são sintomas que indicam, na superfície, a revolução que está acontecendo no corpo da mulher (ou do homem trans) pela simples queda hormonal que acontece quando ela se prepara para ou deixa de menstruar. 

De acordo com Adriana Campaner, ginecologista e obstetra especialista em Patologia Genital e Colposcopia e médica das redes Delboni Medicina Diagnóstica e Alta Diagnósticos, um dos principais impactos físicos da menopausa é o aumento do risco para as doenças cardiovasculares. 

Isso ocorre porque o estrogênio evita a deposição de placas de gordura – chamadas de ateromas – nos vasos sanguíneos da mulher. “Ele acaba atuando como um protetor da saúde cardiovascular feminina”, diz a especialista. 

A partir dos 50 anos, no entanto, com a queda dos hormônios, o risco de problemas como infarto e AVC (acidente vascular cerebral) na população feminina vai aumentando. Aos 60 anos, é possível dizer que o risco para infarto já é semelhante ao dos homens. 

Outra consequência física importante da queda na produção do estrogênio é a menor absorção de cálcio nos ossos. Isso porque o hormônio é importante para auxiliar na fixação do mineral nos ossos. 

+ Saiba mais: Osteoporose, o que é e como tratar

Nessa esteira, é comum também que a mulher passe a sentir dores e outros problemas nas articulações – que se tornam mais ressecadas ou com menos lubrificação à medida em que o estrogênio deixa de ser produzido pelo corpo. 

Para complicar mais um pouco, a queda na testosterona também mexe com a massa muscular, que acaba diminuindo de volume com a falta do hormônio. 

Arte: Andrea Petkevicius

Quais exames a mulher deve fazer após a menopausa?

A rotina de cuidados com a saúde costuma ser muito bem seguida pelas mulheres ao longo da vida. Após a menopausa, ela não deve ser deixada de lado – mas alguns exames passam a ser feitos com mais frequência, enquanto outros são adicionados à lista de obrigatórios. 

De acordo com Campaner, os principais exames recomendados para o período após a menopausa são:

  • Ultrassons: o avançar da idade é fator de risco para o surgimento de câncer. Por isso, os ultrassons vaginal e abdominal são recomendados para checar a possível presença de tumores no endométrio e no abdômen. O ultrassom de mamas também é recomendado para checar possíveis cistos e nódulos e avaliar a estrutura das glândulas mamárias. 
  • Mamografia: é o exame de imagem das mamas obtido por meio de radiografia. Serve para identificar lesões, nódulos, assimetrias e, principalmente, diagnosticar precocemente o câncer de mama.
  • Densitometria óssea: realizado para definir a quantidade de massa óssea em regiões como coluna lombar e fêmur, serve para fazer o diagnóstico de osteoporose.
  • Colonoscopia: exame feito para detectar pólipos e tumores no reto e intestino grosso.
  • Exames de sangue: dosagem de vitamina D e outras vitaminas, colesterol, glicemia, ferro e outras análises laboratoriais podem ser requisitadas para ajudar a entender melhor o estado de saúde global da paciente. 
Imagem: Shutterstock

Menopausa e saúde mental: qual a relação?

Se tem algo que todas as mulheres dizem notar ao entrar no climatério é a mudança de humor e uma piora progressiva na saúde mental. E, se pensarmos que os ciclos do corpo feminino são regidos por hormônios, faz todo sentido inferir que a mudança desse equilíbrio vai trazer mudanças nas emoções também. 

“Algumas mulheres não se reconhecem e, às vezes, nem nós reconhecemos elas”, afirma Joice Armelin. Ela se refere ao comportamento ansioso, irritado e com frequência verborrágico com que muitas mulheres na perimenopausa chegam ao consultório. 

Mais uma vez, a culpa é da queda no nível de estrogênio, que também atua como um importante estabilizador de humor para as mulheres. Sem ele, é comum existir queda de produtividade no trabalho em consequência da irritabilidade e das frequentes rusgas com equipe e colegas. 

+ Saiba mais: Quais os benefícios da reposição hormonal para a mulher

No campo pessoal, os relacionamentos próximos também sofrem com as alterações de humor – que, em algumas mulheres, podem ter conotações depressivas. “Há as que ficam completamente anedônicas, sem prazer em sair ou estar com pessoas queridas”, afirma a médica. 

Existem ainda relatos de um chamado “nevoeiro mental”, uma dificuldade em acessar informações que antes eram simples, como tarefas do trabalho ou do dia a dia em casa. 

Mas tudo isso tende a ser transitório, ou seja, ocorre no período em que o corpo, que antes funcionava inundado de hormônios, está se adaptando à nova realidade química. 

Algumas mulheres, no entanto, têm predisposição a sofrer com transtornos como depressão e ansiedade. “E, sem o estrogênio, aumenta o risco para desenvolver esses quadros”, afirma Carmita Abdo. 

O envelhecimento do corpo e a queda na libido também são fatores que atingem o emocional feminino. É comum que elas comecem a se sentir velhas e descartáveis ao se compararem com mulheres mais jovens, com corpos malhados e sem rugas, criando uma receita explosiva para aquelas que têm mais risco a problemas psicológicos. 

Nesses casos, é preciso intervir para tratar a depressão – que pode até mesmo aumentar o risco para o desenvolvimento de demência. “Sessões de psicoterapia e antidepressivos, quando necessários, devem ser usados para cuidar dessa mulher”, afirma a psiquiatra, que é categórica ao afirmar que estar na menopausa não significa estar deprimida. 

“Muitas estão na melhor fase, com experiência acumulada e muito autoconhecimento”, afirma. “Não precisamos viver sofrendo. A menopausa é um momento que deve ser planejado para ser desfrutado ao máximo”, acredita. 

Arte: Andrea Petkevicius

 

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