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O que é compulsão alimentar?

Saiba como identificar e tratar esse problema que requer tratamento multidisciplinar

Por Sophie DeramPublicado em 26/09/2022, às 13:29 - Atualizado em 31/05/2023, às 17:14
Foto: Shutterstock

Você já perdeu o controle em relação à comida alguma vez? Se a resposta for sim, você não está sozinho/a. Exageros à mesa fazem parte da vida e não há problema nisso, desde que sejam situações ocasionais. Mas e quando isso se torna algo recorrente? Então, o caso pode ser de compulsão alimentar.

A compulsão alimentar é um distúrbio caracterizado pelo hábito de comer grandes quantidades de alimentos em um curto período de tempo, com a sensação de descontrole diante da comida. Trata-se de uma doença mental e que necessita de um tratamento multidisciplinar.

Compulsão alimentar x exagero

É muito comum confundir compulsão com exagero. No final de semana, em festas, ao encontrar amigos para uma refeição ou diante de um alimento que gostamos muito, é comum comer a mais. Esses exageros são totalmente normais. Se você, às vezes, “chuta o balde”, fique tranquilo!

No entanto, a compulsão alimentar não é um exagero ocasional. Quem sofre com esse problema não escolhe comer grandes quantidades de comida, nem tem esses episódios como agradáveis. Se sentir isso é importante buscar ajuda especializada multidisciplinar com psiquiatra, nutricionista e psicólogo.

Algumas das características observadas são:

  • Consumir uma quantidade de comida bem maior que o normal e em um curto intervalo de tempo;
  • Sensação de perda de controle diante da comida. É difícil parar de comer mesmo que deseje isso;
  • Comer até sentir-se desconfortável;
  • Comer mesmo sem estar com fome física;
  • Comer escondido, com sensação de vergonha;
  • Sentimentos negativos em relação a si mesmo e sensação de culpa após os episódios de compulsão.

Além disso, enquanto qualquer pessoa pode exagerar na comida, a compulsão alimentar é um comportamento presente em transtornos alimentares como estes:

  • Transtorno de compulsão alimentar: caracterizado por, pelo menos, um episódio de compulsão alimentar por semana durante no mínimo três meses sem uso de comportamentos compensatórios (indução de vômito, ingestão de laxantes e diuréticos, jejuns prolongados, entre outros métodos de purgação).
  • Bulimia nervosa: apresenta episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios inadequados, o que diferencia essa doença do transtorno de compulsão alimentar.
  • Anorexia nervosa do subtipo purgativo: além das características típicas da anorexia, como restrição alimentar que provoca perda de peso acentuada, forte medo de ganhar peso e baixa autoestima relacionada ao peso, a pessoa se envolve em episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios.

Como funciona a cabeça de quem tem compulsão alimentar?

A cabeça de quem apresenta compulsão alimentar funciona como se ela tivesse uma dependência comportamental em relação à comida. Algumas pessoas até gostam de falar em “vício em comida”, mas eu, particularmente, não gosto da expressão, pois pode criar um terrorismo alimentar ao colocar os alimentos ao lado das drogas ilícitas.

De qualquer forma, o que acontece é uma perda de controle diante da comida. O sistema de recompensa no cérebro é ativado de um modo que a pessoa não consegue parar de comer. Não se trata de força de vontade como muitos pensam.

Na verdade, geralmente as pessoas nem sentem o gosto da comida e mal mastigam, pois não comem por prazer. Também há relatos de “apagão” nesses momentos, sendo difícil lembrar o que foi consumido. Nesses casos, elas podem tanto comer alimentos doces quanto salgados, comidas que gostam ou que não gostam, alimentos crus, congelados e mesmo buscar comida no lixo.

+LEIA MAIS: Como ter uma relação mais saudável com a comida?

Quem sofre com a compulsão alimentar, comumente apresenta oscilações de peso frequentes, tentativas frustradas de fazer dietas restritivas e de controlar os episódios de compulsão, não reconhece que tem esse problema, demonstra baixa autoestima, impulsividade e, apesar de a distorção da imagem corporal não ser uma característica, a insatisfação com o corpo está muito presente.

Diante de tudo isso, torna-se comum o isolamento social e o abandono de atividades de lazer. Porém, as consequências desse problema de saúde não incluem apenas questões mentais e sociais, a saúde física também é afetada. Pressão alta, diabetes, colesterol alto, problemas de pele, problemas digestivos, ganho de peso podem estar associados à compulsão alimentar.

Restrição pode gerar compulsão!

Foto: Shutterstock

Diversos fatores estão relacionados à compulsão alimentar: genéticos, culturais, sociais, familiares. Mas gostaria de chamar a atenção para um gatilho em específico: as dietas restritivas.

Restrição pode gerar compulsão! Já sabemos disso há algum tempo. Quem faz dieta fica mais obcecado por comida e a tendência é querer consumir o que a dieta proíbe. Se nos pedem para “cortar” o carboidrato é comum pensar muito em pães e massas. Se o açúcar é “banido”, um forte desejo por doces surge.

Restringir a alimentação não faz bem para a saúde mental de ninguém. Em casos mais graves é gatilho para a compulsão, mas em menor grau também pode gerar um comer transtornado, no qual percebemos comportamentos alimentares disfuncionais, mas não a ponto de ser considerado um transtorno alimentar.

Com isso, entramos em um ciclo vicioso que acontece assim: primeiro começamos uma dieta e no começo ela até funciona bem e leva à perda de peso. Ficamos animados! No entanto, com o tempo, o corpo entende que estamos passando por um momento de privação e entra no modo “economia de energia”, aumentando o apetite, o desejo por alimentos considerados proibidos e reduzindo o metabolismo.

Dessa forma, “caímos em tentação”, saímos da dieta e a tendência é, em menor ou maior grau, comer em exagero ou ter um episódio de compulsão alimentar. Isso gera culpa, baixa autoestima e contribui para que se recomece mais uma dieta restritiva, reiniciando o ciclo.

Por isso estou sempre batendo nessa tecla: deixe as dietas restritivas de lado, elas não funcionam e pioram seu comportamento alimentar!

Como tratar a compulsão alimentar?

Como já disse, é normal buscar conforto na comida, bem como exagerar de vez em quando e não há porque se preocupar com isso.

No entanto, se comportamentos como esse são frequentes e acompanhados de sentimentos de descontrole, angústia e culpa, é melhor ficar atento.

Não necessariamente você sofre com compulsão alimentar (isto só um médico psiquiatra poderá dizer), mas, de qualquer forma, caso sinta que a comida está se tornando sua principal maneira de lidar com seus sentimentos, é importante procurar ajuda.

Casos de compulsão alimentar necessitam de um tratamento que conte com a ajuda de uma equipe multiprofissional, composta minimamente por médico psiquiatra, psicólogo e nutricionista, especializados e experientes com transtornos alimentares.

A partir da terapia nutricional (longe das dietas restritivas), da psicoterapia e do tratamento farmacológico, em conjunto, o paciente deve ser guiado para reduzir os episódios de compulsão, buscar mudanças no estilo de vida, manejar a impulsividade, aprender a estar em paz com a comida e a encontrar novos comportamentos como resposta às suas emoções, evitando assim o comer emocional.

Lembre-se que a compulsão alimentar não é falta de força de vontade ou de controle, trata-se de uma doença que necessita de tratamento multidisciplinar. Se a comida tem sido fonte de sofrimento para você, não hesite em buscar ajuda de profissionais especializados.

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