Desconforto ao evacuar pode ser prolapso retal; veja os sinais
Condição atinge principalmente idosos e mulheres, mas pode ocorrer em qualquer idade; conheça os sintomas
Quando o assunto é saúde intestinal, muitos problemas podem ser silenciosos ou causar apenas um leve desconforto no começo. Mas em alguns casos, os sinais podem ser, literalmente, visíveis. O prolapso retal é uma dessas condições que, embora não seja considerada comum, chama a atenção por provocar a saída parcial ou total do reto pelo ânus. Mas o quadro tem tratamento e pode ser prevenido.
Neste artigo, você vai ler:
Prolapso retal: o que é?
O prolapso retal acontece quando a parte final do intestino grosso, o reto, se desloca de sua posição habitual e começa a sair pelo ânus. Esse deslocamento pode acontecer de forma parcial — quando só a mucosa retal é afetada — ou total, com a exteriorização de todas as camadas do reto.
É um problema que costuma se desenvolver aos poucos e, na fase inicial, pode surgir apenas nas idas ao banheiro. No entanto, com o tempo, o prolapso pode se tornar mais frequente e persistente, necessitando de atenção médica.
O prolapso retal é mais comum em idosos, especialmente nas mulheres após os 50 anos com predisposição ao problema. Para se ter uma ideia, quando comparadas com os homens, as mulheres mais velhas têm seis vezes mais risco de desenvolver a condição.
O que causa o prolapso retal?
Há várias causas para o prolapso retal. Uma delas é a constipação crônica, presente em cerca de 30% a 70% dos casos. Isso porque o esforço excessivo durante a evacuação aumenta a pressão intra-abdominal, forçando o reto para baixo.
Esse mesmo raciocínio de aplica a certos tipos de exercícios físicos que sobrecarregam os músculos do abdômen e podem aumentar o risco em pessoas com predisposição.
Outra causa frequente do prolapso retal é o enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico, especialmente em idosos (por causa do processo natural de envelhecimento), mas também em mulheres que tiveram múltiplos partos vaginais. Isso porque, durante a gravidez e o parto, a pressão sobre o períneo pode fazer com que esses músculos se estirem e enfraqueçam.
Também são considerados fatores de risco para prolapso retal:
- Perda acentuada de peso;
- Falta de tônus na musculatura abdominal e anal;
- Malformações intestinais;
- Infecção por Trichuris trichiura, um tipo de parasita do intestino grosso;
- Doenças neurológicas, como esclerose múltipla e lesões na medula espinhal (que afetem os nervos que controlam os músculos do assoalho pélvico);
- Fibrose cística, doença genética que causa problemas intestinais crônicos;
- Ocorrência anterior de prolapso de outros órgãos pélvicos, como prolapso uterino ou vaginal (situação que aumenta a pressão sobre o reto).
É possível prevenir?
Embora nem todos os casos de prolapso retal possam ser evitados, a boa notícia é que algumas medidas conseguem reduzir o risco de desenvolver a condição.
Nesse sentido, manter uma alimentação rica em fibras, frutas, legumes, verduras e grãos integrais, além da ingestão de uma boa quantidade de água por dia, vai ajudar a manter o intestino funcionando bem e evitar episódios de prisão de ventre – um importante fator de risco para a maioria dos casos de prolapso retal.
Outras medidas importantes são:
- Praticar atividade física de forma regular;
- Evitar fazer muita força ao evacuar;
- Se os episódios de prisão de ventre forem frequentes, procurar um médico para avaliar o quadro e iniciar o tratamento adequado.
Fortalecer a musculatura pélvica por meio de exercícios específicos, como o pompoarismo ou a fisioterapia pélvica, é outra medida bastante benéfica especialmente para as mulheres, ainda mais após múltiplos partos.
Sintomas do prolapso retal
No começo, é comum que a pessoa não perceba que tem um problema ou note apenas uma sensação de peso ou pressão no ânus, especialmente após a evacuação.
Com a progressão do prolapso, no entanto, pode ocorrer a exteriorização de uma porção (ou total) do reto através do ânus. Nesses casos, os sintomas podem ficar mais intensos e a pessoa pode notar:
- Sangramento retal;
- Secreção de muco pelo ânus;
- Incontinência fecal (dificuldade em controlar as fezes);
- Dor ou desconforto anal;
- Sensação de evacuação incompleta;
- Necessidade de empurrar o reto de volta para dentro do ânus após evacuar.
É importante ressaltar que a presença desses sintomas não significa necessariamente que a pessoa tenha prolapso retal, pois outras condições podem apresentar manifestações semelhantes. No entanto, a persistência de um ou mais desses sintomas requer avaliação médica.
Qual médico procurar?
O especialista indicado para tratar o prolapso retal é o coloproctologista, profissional capacitado para lidar com doenças do intestino, reto e ânus.
Em alguns casos, especialmente quando há associação com outros problemas relacionados a órgãos pélvicos, o paciente também pode ser encaminhado a um ginecologista, urologista ou até um neurologista para acompanhamento multidisciplinar.
Exames que auxiliam no diagnóstico do prolapso retal
O diagnóstico do prolapso retal geralmente começa com a avaliação clínica, em que o médico observa o ânus durante a contração e o esforço de evacuação.
A partir daí, o especialista pode solicitar alguns exames para descartar outras suspeitas, confirmar o diagnóstico e/ou avaliar a extensão do problema. Entre os exames que podem ser solicitados, estão:
- Anuscopia e retossigmoidoscopia: permitem a visualização do interior do reto e do canal anal;
- Colonoscopia: indicada para excluir outras doenças intestinais;
- Defecografia: exame de imagem que mostra o funcionamento do reto durante a evacuação;
- Manometria anorretal: avalia a função dos músculos do assoalho pélvico;
- Eletroneuromiografia (ENMG) do assoalho pélvico: avalia a atividade elétrica dos músculos do assoalho pélvico e dos nervos que os controlam.
- Ressonância magnética (RM) pélvica: pode ser utilizada para visualizar as estruturas pélvicas e identificar prolapsos internos ou outras anormalidades.
Esses exames ajudam a diferenciar o prolapso de outras condições com sintomas semelhantes, como hemorroidas internas e tumores retais.
Formas de tratamento
A escolha da conduta terapêutica é feita de forma individualizada. Na consulta inicial, o médico leva em conta tanto a intensidade dos sintomas como a gravidade do problema e a idade do paciente.
Quando a situação é considerada leve, não há necessidade de procedimentos cirúrgicos: o médico pode prescrever medicamentos para facilitar a evacuação (popularmente chamados de laxantes) e fazer a reintrodução manual do reto do paciente durante a consulta.
Além disso, recomenda-se também implementar mudanças na alimentação e no estilo de vida, para os casos associados à constipação; e a realização de fisioterapia pélvica para fortalecimento muscular.
No entanto, especialmente quando há prolapso retal total ou sintomas persistentes, a cirurgia pode ser indicada. Mas, além do grau do prolapso, a decisão depende da idade do paciente e seu estado geral de saúde.
Existem diferentes técnicas cirúrgicas; as mais comuns são a retossigmoidectomia (retirada da parte prolapsada do intestino) e a fixação do reto à parede pélvica para evitar recidivas. A fisioterapia do assoalho pélvico pode ser recomendada no pós-operatório para fortalecer os músculos e melhorar o controle intestinal.
Fonte: Dra. Clarisse Ponte – Endocrinologista