Arterite temporal: doença autoimune que causa inflamação nos vasos sanguíneos da cabeça
O tratamento com corticoides costuma ser a primeira indicação médica para controlar a doença
O tratamento com corticoides costuma ser a primeira indicação médica para controlar a doença
Uma forte dor de cabeça nova e persistente em um idoso pode ser um alerta. E talvez indique uma condição séria, mas incomum, chamada arterite temporal. Essa doença é um tipo de inflamação que atinge principalmente os vasos da cabeça.
A condição – que afeta principalmente mulheres com mais de 50 anos, principalmente após os 70 anos – exige atenção médica rápida. Diagnóstico e o tratamento corretos são fundamentais para evitarmos complicações graves.
Neste artigo, você vai ler:
Arterite temporal: o que é?
A arterite temporal é uma doença inflamatória que atinge os vasos de médio e grande calibre da cabeça. A inflamação acontece com mais frequência vasos localizados nas têmporas, por isso seu nome. A condição também é chamada de arterite de células gigantes.
Essa doença é um tipo de vasculite, uma inflamação da parede dos vasos sanguíneos. Quando os vasos, em especial as artérias inflamam, sua parede incha e isso atrapalha a passagem do sangue. A circulação para alguns órgãos pode ser comprometida, o que pode levar a danos sérios e permanentes.
O que é qual a função da artéria temporal?
A artéria temporal é um importante vaso sanguíneo da cabeça. Seu nome técnico é artéria temporal superficial. Ela se localiza na lateral da cabeça, passando na frente da orelha e subindo em direção à testa e ao couro cabeludo. É a artéria que podemos sentir pulsar na nossa têmpora.
Sua principal função é levar sangue rico em oxigênio para nutrir várias partes da cabeça e do rosto. Ela irriga os músculos usados para a mastigação e leva sangue para partes do couro cabeludo.
Arterite temporal em jovens
A arterite temporal em jovens é uma condição muito rara. A doença afeta predominantemente mulheres com mais de 50 anos. Sim, embora raros, casos em pacientes mais novos podem acontecer. Mas eles são considerados exceções e geralmente são relatados em estudos médicos.
Os sintomas podem ser semelhantes aos de pacientes mais velhos, incluindo fortes dores de cabeça. Por ser tão rara nessa faixa etária, o diagnóstico pode ser um desafio para os médicos.
Possíveis causas
A causa exata da arterite temporal não é conhecida, mas acredita-se que tenha uma base autoimune. O sistema imunológico ataca os próprios vasos por estar muito reativo, e isso gera a inflamação que define a doença.
Além disso, sabe-se que mulheres são mais propensas a desenvolver a doença na frequência de 3 para 1 homem e que pessoas do norte da Europa teriam maior incidência. Ter um parente próximo com a condição também pode aumentar o risco.
Vale ainda mencionar que muitas pessoas com arterite temporal também podem ter outra doença autoimune, a polimialgia reumática, que causa dores importantes nos ombros e quadris.
Sintomas da arterite temporal
O sintoma mais comum é uma dor de cabeça nova e diferente. Ela costuma ser importante, persistente e latejante. A dor se concentra nas têmporas, mas o couro cabeludo também pode ficar muito sensível ao toque.
Além da dor de cabeça, a dor na mandíbula ao mastigar é muito característica. O paciente relata cansaço e dificuldade para mastigar alimentos mais duros. Mas outros sintomas podem aparecer. São eles:
- Febre baixa e fadiga excessiva.
- Perda de peso sem motivo aparente.
- Dores articulares, principalmente nos ombros e quadris.
- Sensibilidade no couro cabeludo ao pentear o cabelo ou deitar a cabeça.
- Visão embaçada ou dupla.
- Perda súbita da visão em um dos olhos.
Problemas de visão são um alerta grave. A perda visual pode ser permanente se não tratada.
Qual médico procurar?
O médico especialista mais indicado é o reumatologista. Ele trata de doenças inflamatórias e autoimunes. Mas o clínico geral também pode fazer o diagnóstico inicial e, então, encaminhar o paciente ao especialista.
É importante procurar ajuda médica rapidamente, principalmente se houver dor de cabeça forte e problemas na visão.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico começa com a avaliação do médico. A história contada pelo paciente é muito importante para o diagnóstico. No exame físico, ele pode palpar a artéria temporal. E ela pode estar sensível, inchada ou com pulsação reduzida. Já os exames de sangue serão complementares e ajudarão a confirmar a presença da inflamação no vaso.
O primeiro exame de sangue solicitado costuma ser o exame VHS. Ele mede a velocidade que as hemácias empilham umas sobre as outras em um tubo de ensaio, no caso de inflamação, as hemácias depositam mais rapidamente o que aumenta essa velocidade. Um valor alto sugere que existe alguma inflamação no organismo. Valores de VHS ≥ 30mm/ hora ou Proteína C-reativa (PCR ≥ 10mg/L) são bastante sugestivos para o diagnóstico.
O VHS não aponta a causa exata, mas ele é uma pista importante para o médico investigar a presença de uma inflamação.
A biópsia da artéria temporal é o exame que confirma a doença. O médico retira um pequeno pedaço da artéria da têmpora. O material é analisado em laboratório em busca por sinais de inflamação e células gigantes. Por ser um exame invasivo, pode ser sugerida a avaliação por exames de imagem.
Ultrassom com Doppler, ressonância magnética, tomografia ou PET-TC podem ser usados, pois eles mostram a inflamação e o fluxo de sangue nos vasos, além de avaliar possíveis diagnósticos diferenciais.
Formas de tratamento para a arterite temporal
O tratamento deve começar o mais rápido possível. O foco é reduzir a inflamação dos vasos, aliviar os sintomas e prevenir complicações graves. Como a principal complicação é a perda da visão, o tratamento deve começar antes mesmo da confirmação por biópsia.
A primeira opção de tratamento é o uso de corticoides – geralmente em doses altas no início. O tratamento pode ser iniciado com corticoide intravenoso por poucos dias (3-5 dias) em casos mais graves ou oral com doses altas de prednisona entre 40-60 mg/dia. A dose deve ser reduzida lentamente ao longo de meses. E esta redução depende da melhora dos sintomas e dos exames de sangue.
Mas há outras opções que podem ser usadas e que ajudam a reduzir a dose de corticoides e seus efeitos colaterais. Entre elas, temos:
- Drogas modificadores de atividade de doença: medicamentos que abaixam a imunidade reduzindo a atividade do sistema imunológico. O metotrexato é um exemplo, usado como comprimidos.
- Terapias biológicas: medicamentos mais modernos que abaixam a imunidade, como o tocilizumabe. Eles agem em alvos específicos do processo inflamatório como a Interleucina 6. O uso do Tocilizumabe de forma sub-cutânea ou endovenosa no início do tratamento de forma conjunta à prednisona, tem sido uma boa alternativa como um importante poupador de corticoide.
A associação de qualquer droga ao corticosteroide no início do tratamento deve ser ponderada pelo médico que acompanha o paciente, pesando riscos e benefícios.