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    Doença inflamatória intestinal: condição é crônica e autoimune

    Acompanhamento médico é feito principalmente por um gastroenterologista ou proctologista, podendo envolver também outros profissionais da saúde

    Fonte: Dra. Zuleica Barrio BortoliMédica gastroenterologista Publicado em 28/03/2024, às 13:34 - Atualizado em 04/04/2024, às 09:13

    Exame clínico para doenças inflamatórias intestinais

    Pessoas que têm algum tipo de doença inflamatória intestinal podem apresentar diversos sintomas, sendo os principais dor abdominal persistente, diarreia e presença de sangue nas fezes. Embora não haja cura, os tratamentos disponíveis são capazes de oferecer boa qualidade de vida para esses pacientes. 

    O que é doença inflamatória intestinal (DII)?  

    O termo “doença inflamatória intestinal” (ou DII) se refere a um grupo de condições marcadas pela inflamação crônica do trato gastrointestinal. Além de crônicas, elas são autoimunes. 

    As mais comuns são a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, que costumam ter dois picos de manifestação: entre o final da adolescência e o início da vida adulta, e a partir dos 50 anos. 

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    Doença de Crohn  

    A doença de Crohn caracteriza-se por acometer qualquer parte do tubo digestivo, da boca até o ânus. Ela também é transmural, ou seja, atinge todas as camadas do intestino. Portanto, não fica restrita à parte interna do revestimento do tubo digestivo. Isso significa que pode haver danos, como estenoses (estreitamentos) e fístulas (perfurações), em todas as camadas do trato gastrointestinal. 

    Retocolite ulcerativa  

    A retocolite ulcerativa concentra-se no cólon (final do intestino grosso) e no reto. É uma doença que afeta especificamente a mucosa, que é a camada mais superficial da parede do intestino, gerando inflamação e ulceração. Ou seja, ela não prejudica toda a espessura da parede do tubo digestivo como pode ocorrer na doença de Crohn. 

    O que pode causar a doença inflamatória intestinal?  

    A origem exata da doença inflamatória intestinal não é conhecida. No entanto, sabe-se que suas causas são multifatoriais e incluem elementos como disbiose intestinal e genética. 

    A disbiose corresponde a uma desregulação da microbiota intestinal, que pode ser resultado de dietas baseada em alimentos ultraprocessados, com muitos conservantes e aditivos químicos, na qual não se prioriza alimentos de caráter mais natural. 

    Acredita-se que esse desequilíbrio da microbiota seja capaz de desencadear alterações inflamatórias e imunológicas no organismo humano, fazendo com que anticorpos ataquem a parede do intestino. 

    Já no âmbito genético, considera-se que pessoas com histórico familiar de doença de Crohn ou retocolite ulcerativa possam apresentar predisposição a desenvolver uma doença inflamatória intestinal. 

    Sintomas de doença inflamatória intestinal  

    A doença de Crohn e a retocolite ulcerativa têm sintomas similares. Eles são crônicos, de longa data, podendo apresentar períodos de melhora e de piora. Os sinais mais frequentes de doença inflamatória intestinal são: 

    • Dor abdominal; 
    • Perda de peso; 
    • Febre; 
    • Diarreia com sangue; 
    • Obstrução intestinal (especificamente no caso da doença de Crohn). 

    Há ainda manifestações extra-intestinais, que podem ser reumatológicas, cutâneas ou oculares: 

    • Dor, inchaço e calor nas articulações; 
    • Problemas de pele (como hidradenite supurativa, pioderma gangrenoso e psoríase); 
    • Alterações nos olhos (como uveíte).

    Qual médico procurar?  

    O gastroenterologista e o proctologista são profissionais capacitados para avaliar pacientes com suspeita de doença inflamatória intestinal. 

    Como é feito o diagnóstico?  

    O diagnóstico da DII pode ser desafiador, pois os sintomas podem ser semelhantes aos de outras condições. O processo geralmente envolve uma combinação de: 

    • Consulta médica: o médico irá avaliar os sintomas, histórico médico e familiar. Ele pode realizar um exame físico, incluindo palpação abdominal e toque retal.
    • Exames de sangue: para identificar eventuais sinais de inflamação, como anemia ou alterações nos níveis de eletrólitos, e ainda para detectar a presença de autoanticorpos sugestivos para DII.
    • Exames de fezes: para investigar a presença de sangue oculto, parasitas ou bactérias, e avaliar a calprotectina fecal (um marcador de inflamação intestinal).
    • Exames de imagem: ultrassom intestinal, cada vez mais difundido para essas doenças, tomografia computadorizada (para avaliar a extensão da inflamação e identificar possíveis complicações) e ressonância magnética (para fornecer imagens mais detalhadas do intestino e identificar fístulas ou abscessos).
    • Colonoscopia: é o exame que captura imagens do intestino grosso e de parte do íleo terminal (porção final do intestino delgado).
    • Endoscopia: consiste no exame do esôfago, estômago e duodeno. É o mais preciso para diagnosticar DII, com coleta de biópsias para análise laboratorial.
    • Retossigmoidoscopia: visualização do reto e parte do cólon, útil para casos de DII distal.
    • Avaliação histológica das biópsias ou peças cirúrgicas: são indispensáveis para os diagnósticos das doenças inflamatórias intestinais.

    O diagnóstico definitivo da DII é feito com base na combinação de informações levantadas durante a consulta com resultados de exames. Nem sempre todos os exames acima são requeridos, mas, em alguns casos, pode ser necessário realizá-los para descartar outras doenças. 

    Tratamento para doença inflamatória intestinal  

    As formas de tratamento variam conforme o quadro do paciente. Podem ser utilizados comprimidos orais anti-inflamatórios, corticoides (por um curto período, pois a longo prazo têm efeitos colaterais ruins), imunossupressores e imunobiológicos. 

    Como não há cura para doença de Crohn ou retocolite ulcerativa, o tratamento é para controle dessas condições. Sendo assim, o uso dos fármacos é contínuo por toda a vida, podendo haver variação nas doses ao longo do tempo. A maioria dos medicamentos são de alto custo e disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).  

    Quando o tratamento clínico não consegue amenizar os sintomas da doença inflamatória intestinal, uma cirurgia pode ser indicada em alguns casos. Esse tipo de abordagem também pode ser necessário se houver, na doença de Crohn, perfuração ou obstrução intestinal. 

    Embora sejam condições sérias, muitas vezes os indivíduos com doença de Crohn ou retocolite ulcerativa levam vidas normais. Para isso, é fundamental contar com profissionais especializados – incluindo não só gastroenterologistas e proctologistas, mas também nutricionistas, nutrólogos, psiquiatras e psicólogos, a depender das demandas de cada paciente. 

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