Quer engravidar? Veja principais tratamentos
As técnicas de reprodução assistida permitem o nascimento de milhões de bebês
É só olhar em volta para perceber que os homens e as mulheres estão optando por ter filhos mais tarde. Muitas vezes, a carreira, a falta de estabilidade financeira ou a dificuldade de ter um parceiro ou uma parceira adiam o sonho da parentalidade. Há ainda casos de pessoas que não sabem se querem ter um bebê e vão deixando para mais tarde.
No entanto, com o passar dos anos, o organismo muda, assim como a fertilidade, e surgem diversas dificuldades para engravidar de forma natural. Pode ser frustrante tentar por meses (ou anos) e não conseguir gerar uma criança.
Se você está passando por isso agora, saiba que não está sozinho (a)! No mundo todo, a cada ano, milhões de casais (ou mulheres solos) experimentam algum problema de fertilidade que dificultam a concepção natural.
A boa notícia é que a medicina evoluiu bastante e as técnicas de reprodução assistida permitiram dar vida a milhões de bebês que de outra forma não teriam nascido.
“A primeira medida para quem está tentando engravidar é consultar um médico para saber se existe alguma doença ou algum impedimento que possa atrapalhar a gravidez. Nós consideramos que o ideal é tentar engravidar livremente durante um ano ou por seis meses quando a mulher tem mais do que 35 anos”, explica Fernando Prado, ginecologista, obstetra, especialista em Reprodução Humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e da Sociedade Europeia de Reprodução.
A seguir, você confere quais são as barreiras encontradas para uma gestação, as técnicas disponíveis para tornar esse sonho realidade e como os hábitos influenciam a fertilidade. Acompanhe!
Doenças que atrapalham a fertilidade
A infertilidade é definida como a incapacidade de conceber após um ano de atividade sexual regular sem o uso de qualquer método contraceptivo. Mas isso não significa que a pessoa ou casal não pode ter filhos. Portanto, é fundamental investigar as causas que atrapalham a fertilidade.
Em até 10% dos casos, não há uma “doença” específica e, nesse caso, considera-se infertilidade sem causa aparente. A maioria dos casais fica em dúvida a partir de quando deve começar a se preocupar com sua fertilidade.
De qualquer forma, é muito importante buscar ajuda especializada para identificar as razões da dificuldade para engravidar e começar um tratamento o quanto antes, caso seja necessário.
“Infelizmente, não há nenhum método disponível capaz de medir adequadamente a fertilidade humana. Alguns fatores, entretanto, servem de alerta como a idade da mulher acima de 35 anos, ciclos menstruais irregulares, endometriose ou alterações no espermograma, uso de medicamentos que interferem na fertilidade e mais de dois abortos”, explica Márcia Mendonça Carneiro, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida e professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Abaixo, veja detalhes dos principais problemas que afetam a fertilidade.
Idade avançada
No caso das mulheres, a idade é um fator primordial na fertilidade. Você sabia que elas já nascem com um número não renovável de óvulos em seus ovários? Por conta disso, com o tempo há uma redução natural da capacidade de fecundar.
Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a idade paterna não afetaria nas chances de gravidez, pois há uma renovação contínua dos espermatozoides a cada 72 dias. Mas, hoje já se sabe que homens mais velhos também podem ter efeitos negativos nas taxas de gravidez e influenciar o aumento de aborto espontâneo. Além disso, a qualidade do sêmen se deteriora com o aumento da idade.
Dessa forma, com o passar dos anos, a idade avançada do homem também aumenta o risco de alterações nos óvulos. E isso acarreta um risco maior de síndromes cromossômicas, como é o caso da Síndrome de Down.
“Hoje sabemos que os espermatozoides não sofrem tanto os efeitos ambientais quantos os óvulos, já que o seu tempo de vida é muito mais curto. No entanto, pais mais velhos (após 50 anos), têm o risco aumentado de ter filhos com autismo, por exemplo”, complementa Prado.
Entre as doenças que atingem as mulheres estão:
Endometriose
O problema acontece quando há um crescimento excessivo do endométrio (tecido que reveste o útero e é eliminado na menstruação) fora da cavidade uterina. Por isso, provoca uma inflamação ao aderir a outros órgãos, como ovários, trompas e abdômen.
Geralmente, a mulher sente bastante dor durante a relação sexual, para urinar e evacuar. É bastante comum que o diagnóstico demore anos para acontecer e o tratamento geralmente inclui pílula anticoncepcional, analgésicos, anti-inflamatórios e intervenção cirúrgica.
De acordo com a SBE (Sociedade Brasileira de Endometriose) entre 30% e 40% das mulheres diagnosticadas com a condição também enfrentam a infertilidade. “A endometriose fica mais severa em mulheres mais velhas, o que compromete ainda mais uma gestação. É importante diagnosticar e tratar adequadamente antes de começar qualquer técnica de reprodução assistida”, completa Donadio.
Ovários policísticos
A síndrome dos ovários policísticos é um distúrbio hormonal comum entre as mulheres em idade reprodutiva. Nesses casos, elas produzem quantidades acima do normal de hormônios masculinos. Por conta desse desequilíbrio hormonal ocorrem alterações no ciclo menstrual e dificuldade para engravidar.
Os especialistas ainda não sabem as causas exatas dos ovários policísticos. Estima-se que afete em média 15% das mulheres em idade reprodutiva. Após o diagnóstico, são indicados pílulas anticoncepcionais para regularizar a menstruação, adoção de um estilo de vida saudável, com uma alimentação balanceada e a prática regular de exercícios físicos.
Malformação
Algumas mulheres podem ter anomalias anatômicas, ou seja, malformação no sistema reprodutivo. Muitas vezes, prejudica a fertilidade ou dificultar a permanência do bebê no útero durante a gestação.
Entre os problemas mais comuns, estão: alterações no formato, volume, espessura, organização e função do endométrio, alterações da vascularização uterina e defeitos congênitos no útero.
O tratamento varia de acordo com a anomalia, mas podem ser indicadas cirurgias.
Já em relação aos homens, os problemas mais frequentes são:
Varicocele
Trata-se de uma dilatação anormal das veias localizadas dentro do escroto, que é a bolsa abaixo do pênis onde ficam os testículos. Geralmente, surge ainda na adolescência e o diagnóstico é realizado por meio de ultrassom e cintilografia. Na maioria das vezes, os homens não apresentam sintomas.
A varicocele diminui a qualidade do sêmen, pois o sangue não circula adequadamente. Por isso, é comum que ocorra uma diminuição da fertilidade. Cerca de 15% da população masculina tem o problema, que consiste na principal causa de infertilidade presente em até 40% dos homens.
Qualidade do esperma
A baixa quantidade e qualidade do espermatozoides são fatores que dificultam uma gestação. Uma baixa contagem de espermatozoides também é chamada de oligospermia; já a ausência completa de espermatozoides é conhecida como azoospermia.
A contagem de espermatozoides é considerada menor do que o normal quando está abaixo de 15 milhões de espermatozoides por mililitro de sêmen. Além disso, alguns homens podem ter problemas na motilidade, vitalidade e formato do espermatozoide.
Dependendo do diagnóstico, o especialista define qual a melhor forma de tratamento para ocorrer a fecundação.
Exames pré-concepcionais: o que são e quando são indicados?
Quando o casal está com dificuldade para engravidar a recomendação é buscar um ginecologista (mulher) ou urologista (homem). Em alguns casos, é indicada a consulta com um especialista em reprodução assistida.
Inicialmente será necessário realizar diversos exames no casal. Poderá ser feita uma investigação completa para avaliar o perfil dos indivíduos, condições de saúde e diagnóstico de possíveis barreiras para a fertilidade. Entre os exames solicitados, estão:
Hemograma completo e exames sorológicos
Conhecido popularmente como exame de sangue, avalia possíveis problemas de saúde como anemias, infecções e alterações na contagem de plaquetas. Podem ser solicitados exames para identificar a tipagem sanguínea e o fator RH para verificar algum tipo de incompatibilidade sanguínea entre o casal.
Hormônio Antimülleriano
É um exame pré-concepcional que analisa o estado da reserva ovariana da mulher. “O objetivo é informar qual é a quantidade de óvulos que a mulher dispõe em seus ovários. Pode diagnosticar uma falência ovariana precoce e a capacidade da mulher responder aos estímulos hormonais ao tratamento de fertilização. Além de contribuir com o planejamento, quando a mulher decide postergar a gestação e congelar os óvulos”, explica Donadio.
Exames de imagens
Podem ser solicitados exames como uma histerossalpingografia (HSG) ou histerossonografia para visualizar as tubas e a cavidade uterina. O objetivo é buscar anormalidades ou outros problemas no sistema reprodutivo feminino.
Espermograma
Avalia a qualidade e quantidade de esperma do homem. Também detecta a existência de infecções nos testículos e na próstata.
Conheça as técnicas de reprodução assistida
Depois de realizar um check-up, o casal que não consegue engravidar será orientado a realizar a melhor técnica de reprodução assistida, de acordo com análise do seu histórico clínico.
Vale destacar que, independentemente do tratamento indicado, as taxas de gravidez dependem de diversos fatores individuais como idade e condições de saúde.
“A avaliação deve ser individualizada levando em consideração a idade da mulher, há quanto tempo estão tentando engravidar e a opinião do casal. O especialista em infertilidade deve informar sobre as modalidades de tratamento existentes e seus respectivos benefícios, custos e riscos”, afirma Carneiro.
Veja abaixo as principais tendências e técnicas de reprodução assistida:
Coito programado
Conhecido também como namoro programado, trata-se de usar medicamentos para estimular a produção de óvulos na mulher, fazendo com que seja possível prever o período da ovulação. Em seguida, o casal é orientado a ter relações sexuais nesse ciclo para aumentar as chances de concepção.
Geralmente, são utilizados indutores da ovulação na forma de comprimidos orais. Esses medicamentos aumentam o número de óvulos disponíveis para fecundação, o que amplia as chances de gravidez.
Inseminação artificial
A técnica de reprodução assistida consiste no depósito do sêmen diretamente na cavidade uterina da mulher durante o período fértil. “É considerado um procedimento de baixa complexidade, com taxa de sucesso entre 20 a 30%, em que as variantes apresentadas pelo casal determinam a possibilidade de a gestação ocorrer”, diz Prado.
O tratamento de inseminação artificial começa a partir do início do ciclo menstrual. Em seguida, é administrado medicamento para induzir ovulação. A aplicação destes hormônios deve ser feita diariamente por, aproximadamente, 9 a 10 dias.
Durante este período, exames de ultrassom devem ser realizados para acompanhar a ovulação. Após a coleta de sêmen do homem, a amostra é avaliada e são realizados testes clínicos que visam selecionar os melhores espermatozoides, aumentando a chance de fertilização.
Fertilização in vitro
Nesse procedimento, o material genético colhido da mulher (óvulo) e do homem (espermatozoides) são fecundados em laboratório. Depois, o embrião é transferido para o útero, onde se implantará e desenvolverá a gestação.
Basicamente, a FIV (Fertilização in Vitro) é dividida em quatro partes: estimulação ovariana, captação dos óvulos e espermatozoides, fecundação assistida e transferência dos embriões.
A mulher precisará tomar alguns medicamentos hormonais para aumentar o número de óvulos coletados. O controle dessa estimulação é realizado por meio de ultrassonografia e também por exames de sangue. O tratamento todo demora entre 45 a 50 dias.
A medicação pode provocar alguns efeitos colaterais leves como inchaço e retenção de líquidos. A taxa de sucesso varia de 60% em mulheres até 35 anos até 10% por volta dos 43 anos.
Os hábitos saudáveis e a fertilidade
Durante toda a vida, é importante manter hábitos saudáveis. Mas você sabia que essas escolhas contribuem ou atrapalham a fertilidade? A seguir, veja detalhes.
Fumar
O cigarro é um dos principais causadores da infertilidade, pois os componentes tóxicos presentes, como a nicotina, pioram a qualidade reprodutiva.
“Nas mulheres, o tabagismo favorece a deterioração dos óvulos, envelhecendo em até 10 anos e acelerando o início da menopausa. Já nos homens, o hábito de fumar diminui a quantidade de espermatozoides e fragmenta o DNA do esperma, reduzindo assim a capacidade de fecundação, além de também contribuir para a perda do apetite sexual e a disfunção erétil”, explica Rodrigo Rosa, ginecologista e obstetra especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
Consumo de bebidas alcoólicas
A ingestão excessiva de álcool também interfere na fertilidade. Nos homens, provoca a diminuição dos níveis de testosterona, redução na produção e quantidade de esperma, podendo levar à disfunção erétil. Já nas mulheres, além de reduzir as chances de gravidez, causa problemas durante a gestação, como malformação do feto.
Dormir bem
O sono desempenha um papel fundamental na moderação de hormônios e níveis de estresse que afetam a fertilidade. Sabe-se que o estresse da privação de sono pode fazer com que o sistema imunológico reaja exageradamente e ataque os espermatozoides. Já mulheres que dormem pouco ou mal costumam ter problemas na regulação de hormônios.
Alimentação saudável
Manter uma dieta adequada está totalmente ligada com as chances de uma gestação acontecer ou não. É importante consumir alimentos integrais, ricos em fibras, frutas, legumes, proteínas e verduras com regularidade. Além disso, vale a pena evitar os alimentos ultraprocessados e ricos em gorduras e açúcar.
Controle do peso e atividade física regular
O excesso de peso e a obesidade levam ao aumento de um hormônio chamado leptina, produzido pelas células de gordura. Em excesso, ele desregula o eixo hipotálamo-hipófise, causando problemas nas gônadas, ou seja, ovários ou testículos.
Homens obesos podem ter menor produção ou mobilidade de espermatozoides, o que atrapalha que se movam adequadamente para ocorrer a concepção.
Também é recomendada a prática regular de atividade física para diminuir o risco de obesidade, melhorar o fluxo sanguíneo, a imunidade e o controle do estresse, que em excesso afeta os hormônios e, por sua vez, reduz as chances de engravidar.
A saúde mental dos tentantes
Como você viu, conseguir engravidar nem sempre é tão fácil. É comum que o processo seja longo, frustrante e cheio de incertezas. Normalmente, há uma cobrança excessiva da sociedade, familiares e amigos, principalmente quando o casal ou mulher tem mais de 30 anos. Com tudo isso, como fica a saúde mental de quem está tentando engravidar?
“O mais importante é encontrar formas de controlar a ansiedade, evitar antecipar situações e o medo de não conseguir. Também é fundamental lidar melhor com a culpa e diminuir a autocobrança”, afirma Camila Muniz de Souza Pedro, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
De acordo com a especialista, uma estratégia interessante é buscar informações e profissionais capacitados para ter mais segurança nesta fase. “É preciso manter o diálogo entre o casal, estabelecer uma rotina de compreensão e parceria. A família e amigos devem ser os espectadores e se envolver apenas se acionados pelos tentantes. Vale apenas procurar um psicólogo ou psiquiatra para aumentar a resiliência e evitar um adoecimento mental”, completa.