Como saber se sou infértil? Idade avançada diminui as chances de gravidez
Homens e mulheres são impactados pela idade, mas exames como espermograma e anti-mulleriano podem guiar o diagnóstico
A infertilidade, definida como a incapacidade de conceber após um ano de tentativas regulares sem o uso de contraceptivos (ou seis meses para mulheres acima de 35 anos), é uma condição que afeta uma em cada seis pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas como saber se seu infértil?
Neste artigo, você vai ler:
Embora 50% das causas de infertilidade se devam à mulher, 30% se devem ao homem e 20% ao casal. Mas, o avanço nos exames de diagnóstico e nas técnicas de reprodução assistida têm permitido dar vida a milhões de bebês todos os anos.
Como saber se sou infértil?
O principal indicativo de infertilidade é a ausência de gravidez após um ano de período de tentativas. Para mulheres com até 35 anos, o diagnóstico costuma ser feito após 12 meses de tentativas naturais; para aquelas com mais de 35 anos, o tempo é reduzido para seis meses.
Infertilidade não significa impossibilidade total de ter filhos, mas sim a necessidade de investigação e, possivelmente, de intervenção médica. Fatores como idade da mulher, ciclos menstruais irregulares, endometriose, alterações no espermograma masculino e histórico de mais de dois abortos espontâneos podem indicar necessidade de ajuda.
Para o homem, a consulta com um urologista é o ponto de partida na investigação de infertilidade, enquanto a mulher deve procurar um ginecologista. Em muitos casos, a consulta com um especialista em reprodução humana é indicada.
Possíveis causas para a infertilidade em homens
Diversos fatores podem contribuir para a infertilidade masculina. Entre eles:
- Varicocele: dilatação anormal das veias localizadas na bolsa escrotal, onde ficam os testículos. Geralmente, surge na adolescência e diminui a qualidade do sêmen. A varicocele causa infertilidade masculina principalmente por aumentar a temperatura testicular, o que prejudica a produção de espermatozoides e a sua qualidade e, assim, a fertilidade. É a principal causa de infertilidade em até 40% dos homens afetados.
- Qualidade do esperma: a baixa quantidade (abaixo de 15 milhões de espermatozoides por mililitro de sêmen) e qualidade dos espermatozoides são fatores cruciais. Problemas na motilidade (capacidade de movimentação), vitalidade e formato dos espermatozoides afetam a fertilidade.
- Criptorquidia: os testículos não desceram até seu lugar correto na bolsa testicular ao nascimento.
- Histórico de caxumba ou outras infecções.
- Exposição a agentes tóxicos.
- Tratamento prévio com quimioterapia.
- Uso de anabolizantes.
- Excesso de álcool ou outras drogas, que podem diminuir os níveis de testosterona; além de reduzir a produção e quantidade de esperma.
- O hábito de fumar, que diminui a quantidade de espermatozoides e fragmenta o DNA do esperma.
- Obstrução dos dutos do esperma, impedindo a passagem dos espermatozoides.
- Fatores genéticos ou hormonais, que podem influenciar a ausência total ou a presença de poucos espermatozoides.
- Idade avançada: homens com mais de 50 anos veem reduzidas suas taxas de gravidez, aumentado o risco de aborto espontâneo e de ter filhos com autismo. A qualidade do sêmen se deteriora com o aumento da idade, aumentando o risco de síndromes cromossômicas, como a Síndrome de Down.
Possíveis causas para infertilidade em mulheres
A idade é a principal causa de infertilidade em mulheres. Elas já nascem com um número não renovável de óvulos, e essa reserva ovariana diminui ao longo da vida, com uma queda mais acentuada a partir dos 35 anos. Mas outros fatores podem influenciar a infertilidade feminina:
- Desequilíbrios hormonais, que podem afetar a liberação regular de óvulos.
- Obstrução das tubas uterinas, responsáveis por transportar o óvulo fertilizado até o útero.
- Endometriose: crescimento excessivo do endométrio (tecido que reveste o útero) fora da cavidade uterina, provocando inflamação e aderências locais. Cerca de 30% a 40% das mulheres com endometriose enfrentam infertilidade.
- Presença de miomas, tumores benignos no útero, que podem interferir na implantação do embrião e em seu desenvolvimento.
- Pólipo uterino: crescimentos benignos no revestimento do útero.
- Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP): distúrbio hormonal comum caracterizado pela produção de quantidades acima do normal de hormônios masculinos, causando alterações no ciclo menstrual e dificuldade para engravidar. Estima-se que afete em média 15% das mulheres em idade reprodutiva.
- Anomalias anatômicas no útero, como alterações de formato, volume, espessura e vascularização, ou defeitos congênitos.
- Obesidade ou magreza excessivas, bem como um estilo de vida pouco saudável.
- Cigarro e álcool. Fumar favorece a deterioração dos óvulos, envelhecendo-os em até 10 anos e acelerando o início da menopausa. O consumo excessivo de álcool reduz as chances de gravidez e pode causar problemas durante a gestação.
- Níveis alterados do Hormônio luteinizante (LH) e Hormônio Folículo Estimulante (FSH): O LH é fundamental para o processo de ovulação feminina, atuando no amadurecimento dos folículos. O FSH trabalha em parceria com o LH para a análise completa da saúde reprodutiva feminina.
- Baixa reserva ovariana: menor quantidade e/ou qualidade de óvulos, diminuindo as chances de concepção natural e a resposta a tratamentos de fertilidade. O exame anti-mulleriano (AMH) avalia a reserva ovariana, indicando a quantidade de óvulos que a mulher dispõe.
Sinais de infertilidade
O principal sinal de alerta é a ausência de gravidez após o período considerado para investigação (12 meses de tentativas para mulheres abaixo de 35 anos e 6 meses para mulheres acima de 35 anos). Mas há outros fatores que indicam a necessidade de investigação.
Para mulheres
- Idade acima de 35 anos.
- Ciclos menstruais irregulares.
- Diagnóstico de endometriose, síndrome dos ovários policísticos, miomas ou pólipos uterinos.
- Dor intensa durante a relação sexual, ao urinar ou evacuar (associada à endometriose).
- Histórico de mais de dois abortos espontâneos.
- Problemas de ovulação.
Para homens
- Diagnóstico de varicocele.
- Alterações no espermograma.
- Histórico de caxumba ou outras infecções nos órgãos sexuais.
- Exposição a agentes tóxicos.
- Uso de anabolizantes ou excesso de álcool e outras drogas.
- Idade acima de 50 anos (que pode afetar a qualidade do sêmen e aumentar riscos genéticos).
Em até 10% dos casos, a infertilidade é considerada “sem causa aparente”, o que não significa que não haja um problema, mas que a causa não foi identificada pelos exames iniciais.
Qual médico procurar?
Inicialmente, quando um casal enfrenta dificuldades para engravidar, a mulher deve procurar um ginecologista e o homem, um urologista.
Se as investigações iniciais não revelarem a causa, é indicada a consulta com um especialista em reprodução humana. Esse profissional, geralmente um ginecologista ou obstetra com especialização em reprodução assistida, pode coordenar os procedimentos de reprodução assistida e supervisionar o processo.
Além disso, o geneticista pode dar uma orientação especializada sobre questões genéticas que podem impactar a fertilidade e a saúde da criança, realizando aconselhamento genético para casais com histórico de doenças genéticas.
Exames indicados para identificar a infertilidade
Uma série de exames pode ser solicitada para ambos os parceiros, buscando identificar possíveis barreiras.
Exames laboratoriais
O hemograma completo e exames sorológicos avaliam possíveis problemas de saúde como anemias, infecções e alterações na contagem de plaquetas. Também podem identificar a tipagem sanguínea e o fator RH, verificando incompatibilidade sanguínea entre o casal.
Espermograma
O espermograma é fundamental para avaliar a fertilidade masculina. Na análise microscópica de uma amostra de sêmen, são avaliados o pH do esperma, sinais de infecção, a movimentação (motilidade), a morfologia (formato) e a concentração dos espermatozoides.
Hormônio Antimülleriano (AMH)
Este exame de sangue pré-concepcional analisa o estado da reserva ovariana da mulher. O objetivo é informar a quantidade de óvulos que a mulher dispõe, diagnosticar falência ovariana precoce e prever a capacidade de resposta aos estímulos hormonais em tratamentos de fertilização.
Exames de imagem
Podem ser solicitados exames como a histeroscopia diagnóstica, a histerossalpingografia (HSG) ou histerossonografia para visualizar as tubas uterinas e a cavidade uterina, buscando anormalidades, obstruções ou outros problemas.
- Exames hormonais: a dosagem de hormônios como o LH (hormônio luteinizante) e o FSH (hormônio folículo-estimulante) é comum, especialmente para mulheres, para avaliar o ciclo menstrual e a função ovariana. Níveis alterados de LH podem indicar problemas na hipófise ou ovário.
Soluções para reprodução assistida
Depois do diagnóstico, o casal que não consegue engravidar será orientado sobre as opções de métodos de reprodução assistida, e decidirá pela melhor para o seu caso, em conjunto com o médico. Hoje, as principais tendências e técnicas de reprodução assistida são:
Coito Programado
Medicamentos estimulam a produção de óvulos na mulher, permitindo prever o período da ovulação. O casal é então orientado a ter relações sexuais nesse ciclo para aumentar as chances de concepção. Indutores de ovulação, geralmente em comprimidos, aumentam o número de óvulos disponíveis para fecundação.
Inseminação Artificial
A inseminação artificial é um procedimento de baixa complexidade, indicado para casos leves de infertilidade. O sêmen (preparado em laboratório para selecionar os melhores espermatozoides) é depositado diretamente na cavidade uterina da mulher durante o período fértil. A técnica busca superar barreiras que impedem o encontro natural dos gametas. As taxas de sucesso variam entre 20% e 30%.
Fertilização in vitro (FIV)
Trata-se de uma técnica de alta complexidade que envolve a união de óvulos e espermatozoides fora do corpo, em laboratório. O processo se divide em quatro partes:
- Estimulação ovariana: a mulher recebe medicações hormonais diárias por cerca de duas semanas para produzir múltiplos óvulos maduros. O controle é feito por ultrassonografia e exames de sangue.
- Captação dos óvulos e espermatozoides: os óvulos são coletados sob sedação por punção ovariana. A amostra de espermatozoides é coletada por ejaculação ou punção testicular em casos específicos.
- Fecundação assistida: os gametas são fertilizados em laboratório.
- Transferência dos embriões: o embrião formado é transferido para o útero da mulher por meio de um fino cateter. É um procedimento indolor feito com a paciente acordada. A taxa de sucesso da FIV varia, sendo de cerca de 60% para mulheres até 35 anos e de 10% por volta dos 43 anos.
Doação de óvulos ou espermatozoides
Nesta técnica, óvulos ou espermatozoides fornecidos por doadores (de bancos de gametas/embriões ou familiares de até quarto grau) são utilizados para a fertilização. É indicada para casos de falência ovariana, ausência de espermatozoides no sêmen ou presença de condições genéticas importantes que não podem ser transferidas para a prole. As mesmas técnicas de reprodução assistida (como FIV e IIU) são empregadas com o material doado.