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Fibrose hepática: a cicatriz silenciosa no fígado

Muitas vezes, a condição passa despercebida até que atinja estágios mais avançados

Por Patricia JulianelliPublicado em 14/05/2024, às 11:50 - Atualizado em 15/05/2024, às 10:58

Fibrose Hepática

A fibrose hepática faz parte de um espectro de doença no fígado que vai desde a esteatose hepática (fígado gorduroso) evoluindo com inflamação e fibrose até a cirrose.

A fibrose se caracteriza pelo acúmulo excessivo de tecido cicatricial no órgão. Essa cicatrização, resultado de lesões crônicas e repetitivas, endurece o fígado e prejudica sua função vital de filtrar toxinas e processar nutrientes.  

Embora a fibrose hepática possa progredir silenciosamente por anos, sem apresentar sintomas, ela representa um risco significativo à saúde, podendo levar à cirrose, insuficiência hepática e até mesmo ao câncer de fígado. 

Siga a leitura e conheça os principais aspectos da fibrose hepática, desde sua definição e graus de progressão até as causas, sintomas, diagnóstico, tratamento e medidas de prevenção. 

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O que é fibrose hepática? 

A fibrose hepática é um processo dinâmico de cicatrização do fígado em que há o acúmulo de colágeno e outras proteínas fora das células hepáticas. Trata-se de uma tentativa do órgão de se proteger: se o dano é agudo, essa cicatriz é reabsorvida, mas, se é crônico, ela avança.

A fibrose acumulada compromete a arquitetura fisiológica do fígado: o órgão endurece, tem seu fluxo sanguíneo alterado e não funciona adequadamente.  

Graus de fibrose hepática

Pela biópsia, a fibrose hepática é classificada em quatro graus, de acordo com a quantidade e distribuição de tecido cicatricial no fígado. Hoje também dispomos de métodos não invasivos para detectar a presença de fibrose, que utilizam exames de sangue ou exames de imagem.  

Nos graus 1 e 2, pode ocorrer reversão do quadro com tratamento adequado. Já o grau 3 representa a fibrose grave e, o 4, cirrose. 

Nos graus 3 e 4, há aumento do risco de desenvolvimento de câncer de fígado e a cirrose causa insuficiência hepática, que leva a quadros de hemorragias do trato digestivo e acúmulo de líquido no abdome (ascite), por exemplo. Não há cura para a cirrose e pode haver indicação para transplante de fígado.  

Nem todos que apresentam esteatose hepática vão evoluir para cirrose. É importante o acompanhamento médico para esta estratificação de risco.  

O que causa fibrose no fígado? 

Existem várias causas, as mais comuns são: 

  • Doença esteatótica do fígado associada ao metabolismo, que vem se tornando a causa mais comum. É uma manifestação da síndrome metabólica junto com hipertensão arterial, diabetes do tipo 2 ou pré-diabetes, aumento da cintura, sobrepeso e obesidade, aumento dos triglicerídeos e níveis baixos de colesterol HDL. Todo adulto com pelo menos uma dessas alterações deve rastrear esteatose hepática e, se esta for diagnosticada, ter seu risco de fibrose avaliado.    
  • Causas virais: Hepatites B e C. Manter a vacinação da hepatite B em dia e, quando indicado, realizar exames de sangue buscando diagnóstico de hepatite contribuem para a prevenção e o tratamento. 
  • Álcool: sempre avaliar o consumo de álcool. Mesmo que a média de consumo diário esteja dentro dos limites recomendados, o hábito de ter períodos de consumo muito intenso também é prejudicial.

Vale lembrar que várias medicações e plantas podem causar lesão no fígado em pessoas suscetíveis, especialmente quando o consumo for elevado.  

Causas menos frequentes de fibrose hepática são hemocromatose (acúmulo de ferro), doença de Wilson (acúmulo de cobre), doença hepática autoimune (o sistema imunológico ataca as células saudáveis do fígado, causando inflamação crônica), além de várias outras causas mais raras.   

E é importante pontuar que pode haver causas associadas, como, por exemplo, doença hepática alcoólica e hepatite C. 

Quais são os sintomas de fibrose hepática? 

A fibrose hepática não causa sinais ou sintomas, eles só aparecem quando há cirrose: cansaço, equimoses, rarefação de pelos, ginecomastia, ascite, cansaço e icterícia (pele amarelada) são alguns exemplos. 

Como é feito o diagnóstico? 

O ideal é que o diagnóstico de fibrose hepática seja feito de forma precoce, buscando inicialmente a esteatose. Se a presença de gordura no fígado é confirmada, avalia-se o risco de fibrose e a indicação para exames complementares, além de tentar estabelecer a causa. Para isso, é feita uma combinação de exames clínicos, laboratoriais e de imagem: 

Exames clínicos 

  • Histórico médico: avaliação de fatores de risco como hepatite B e C, consumo de álcool, diabetes e outras doenças, além do histórico familiar de casos de cirrose e hepatocarcinoma. 
  • Exame físico: peso, altura, circunferência da cintura, medida da pressão arterial.  

Exames laboratoriais 

  • Hemograma: as plaquetas baixas são um marcador indireto do funcionamento do fígado. 
  • Hepatograma (ou prova de função hepática): avalia a saúde do fígado através da análise de enzimas hepáticas como AST, ALT, fosfatase alcalina, bilirrubinas totais e frações e albumina. 
  • Marcadores de hepatite B e C: detectam a presença de infecções por esses vírus, que podem causar fibrose hepática. 
  • Dosagem de ferro, ferritina e saturação de transferrina: auxilia no diagnóstico da hemocromatose, uma doença metabólica que leva ao acúmulo de ferro no fígado.

Testes não invasivos 

  • Ultrassom abdominal: permite visualizar o fígado e identificar a presença de gordura e nos casos avançados, aumento do baço e líquido na cavidade abdominal. 
  • Algoritmos com marcadores indiretos da função hepática: FIB4, APRI, NAFLD: estratificam o risco de fibrose, indicando se o paciente será encaminhado para elastografia. 
  • Elastografia hepática: pode ser transiente, shear wave ou por ressonância e detectam e estimam o grau de fibrose hepática. 
  • Teste ELF: detecta e estima o grau de fibrose com uma amostra de sangue, pode ser uma alternativa ou um método complementar à elastografia.

Teste invasivo: 

  • Biópsia hepática: Retirada de uma pequena amostra do fígado para análise histopatológica, considerada o padrão ouro para o diagnóstico definitivo da fibrose e seu grau e causas.

Fibrose hepática tem cura? 

A fibrose hepática não tem cura, mas a progressão da doença pode ser retardada e até mesmo revertida em alguns casos, principalmente nos estágios iniciais, se a causa subjacente for identificada e tratada adequadamente.

Em estágios avançados, como a cirrose, o foco do tratamento é gerenciar os sintomas e prevenir complicações ainda maiores. 

Qual médico procurar? 

O rastreio da esteatose hepática se inicia na atenção básica, com o médico de família, o clínico geral e especialistas como endocrinologistas e cardiologistas.

Quando a fibrose for estratificada como moderada e avançada ou quando a causa detectada indicar tratamento especializado, como no caso das hepatites B e C, o paciente deve ser encaminhado ao hepatologista (especialista em doenças do fígado).

Como é feito o tratamento para fibrose hepática? 

O tratamento da fibrose hepática depende da causa subjacente e do grau da doença, como veremos nos exemplos a seguir. 

  • Doença esteatótica do fígado associada ao metabolismo: mudanças no estilo de vida, como dieta, perda de peso, prática regular de exercícios físicos, limitar o consumo de álcool e controle dos outros marcadores da síndrome metabólica. Tratamento medicamentoso específico pode ser indicado. 
  • Alcóolica: cessação do consumo de álcool. 
  • Doença hepática autoimune: medicamentos imunossupressores para controlar a resposta autoimune que ataca o fígado. 
  • Hepatite B e C: tratamento antiviral específico para cada vírus, com o objetivo de eliminar a infecção e reduzir a inflamação no fígado. 

Como prevenir a doença? 

A fibrose hepática pode ser prevenida ou ter sua progressão retardada através de medidas que permeiam um estilo de vida mais saudável. Entre elas, podemos destacar: 

  • Manter um peso corporal saudável: utilize o Índice de Massa Corporal (IMC) e a medida da cintura (o ideal é que a cintura seja metade da sua altura) como referências  
  • Adotar uma dieta balanceada: rica em frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras, limitando o consumo de alimentos ultraprocessados, com excesso de gordura, açúcar e/ou sódio. 
  • Praticar exercícios físicos regularmente: pelo menos 30 minutos por cinco dias da semana. 
  • Reduzir o tempo de inatividade: limitar o tempo que ficamos sentados assistindo TV, mexendo no celular ou mesmo trabalhando no computador.  
  • Reduzir ou eliminar o consumo de álcool, uma das principais causas de danos ao fígado. 
  • Vacinar-se contra a hepatite B: a vacina é segura e eficaz na prevenção da infecção por esse vírus, uma das principais causas de fibrose hepática. 
  • Utilizar preservativos durante as relações sexuais: o sexo sem proteção aumenta o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, como hepatite B e C, que podem levar à fibrose hepática. 
  • Fazer check-ups médicos regulares: isso permite a detecção precoce e o controle de doenças como diabetes, hipertensão e colesterol alto, que podem contribuir para a fibrose hepática. 
  • Tratar infecções por hepatite C para evitar a progressão da doença e o desenvolvimento de fibrose hepática. 
  • Seguir as instruções do médico para evitar o uso excessivo de medicamentos, especialmente aqueles que podem danificar o fígado.  

A prevenção da fibrose hepática é um processo contínuo que exige compromisso com um estilo de vida saudável. Adotar as medidas preventivas mencionadas acima pode reduzir significativamente o risco de desenvolver essa doença e proteger a saúde do seu fígado. 

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Fonte: Dra. Deyse Meira, médica hepatologista da Dasa

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