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Hemoptise: por que a tosse com sangue nunca deve ser ignorada

Sintoma pode indicar desde infecções simples a doenças pulmonares graves; e merece atenção médica imediata

Fonte: Dr. Cesar de Araújo NetoRadiologista torácico e Diretor Médico na DasaPublicado em 06/06/2025, às 14:45 - Atualizado em 17/07/2025, às 14:20

Hemoptise

Difícil não se preocupar diante de uma tosse com sangue. Esse sintoma, conhecido pelos médicos como hemoptise, é um sinal de que algo não vai bem com o sistema respiratório. Embora nem sempre indique uma doença grave, o quadro sempre merece ser investigado. Saiba agora o que é a hemoptise, suas possíveis causas e quando procurar ajuda médica.

Hemoptise: o que é? 

Hemoptise é a expectoração de sangue ou de escarro (catarro) misturado com sangue que se origina das vias aéreas inferiores – ou seja, dos pulmões ou dos brônquios. É importante diferenciar a hemoptise da pseudo-hemoptise, ou seja, o sangramento que vem do nariz (epistaxe) ou da garganta e é engolido ou aspirado, sendo depois tossido. 

O quadro também difere da hematêmese, que é o vômito com sangue, com origem no sistema digestivo (estômago ou esôfago) e não nas vias aéreas. O sangue da hematêmese costuma ser mais escuro, parecido com “borra de café”, e pode vir acompanhado de restos alimentares. 

Na hemoptise verdadeira, o sangue geralmente é vermelho vivo ou róseo e pode aparecer em tanto em pequenas quantidades como em volumes maiores.

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Possíveis causas para a Hemoptise

Tossir sangue pode ter inúmeras causas; conheça a seguir as mais comuns. 

Infecções Respiratórias

Bronquite aguda: inflamação dos brônquios, muitas vezes viral, que causa tosse intensa, podendo levar a pequenos sangramentos devido à irritação da mucosa. É uma das causas mais frequentes de hemoptise leve. A bronquite crônica, comum em fumantes, também pode causar episódios de tosse com sangue. 

Pneumonia: infecção dos pulmões que pode ser causada por bactérias (pneumonia bacteriana) ou vírus (pneumonia viral). A inflamação e o dano ao tecido pulmonar podem causar hemoptise, geralmente acompanhada de febre, tosse com catarro e dor no peito. A broncopneumonia, uma forma de pneumonia que afeta os brônquios e os alvéolos, também é uma causa. 

Tuberculose: infecção bacteriana grave que afeta principalmente os pulmões e pode resultar em hemoptise. O sangramento pode ser leve ou, em casos de doença cavitária avançada, volumoso. O exame eficaz para o diagnóstico da condição é o IGRA. 

Bronquiectasias: dilatação anormal e permanente dos brônquios, que pode ser causada por infecções repetidas ou outras doenças pulmonares. As paredes dos brônquios ficam danificadas e mais propensas a sangrar. 

Abscesso pulmonar: pus no pulmão, geralmente devido a uma infecção bacteriana. 

Infecções fúngicas: como a aspergilose, especialmente em pessoas com sistema imunológico enfraquecido ou com cavidades pulmonares preexistentes.

Doenças neoplásicas (câncer)

O câncer de pulmão (carcinoma broncogênico) é uma causa significativa de hemoptise, especialmente em fumantes ou ex-fumantes com mais de 40 anos. O tumor pode invadir vasos sanguíneos e causar sangramento. 

Mas a hemoptise também pode vir de tumores metastáticos, quando o câncer que se originou em outro órgão e se espalhou

Doenças Cardiovasculares

A insuficiência cardíaca, especialmente a do lado esquerdo do coração, pode levar ao acúmulo de líquido nos pulmões (edema pulmonar) e causar tosse com escarro róseo e espumoso. Há ainda outras doenças cardiovasculares que podem levar à hemoptise: 

  • Estenose mitral, um estreitamento da válvula mitral do coração. 
  • Embolia pulmonar: um coágulo de sangue que viaja até os pulmões e bloqueia uma artéria pulmonar. Pode causar dor no peito, falta de ar e, às vezes, hemoptise  
  • Malformações arteriovenosas pulmonares, ou seja, conexões anormais entre artérias e veias nos pulmões. 

Outras Causas

A hemoptise também pode advir de condições de saúde como: 

  • Trauma torácico (pancada forte no peito); 
  • Uso de medicamentos anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários que afinam o sangue e podem aumentar o risco de sangramentos, incluindo a hemoptise. 
  • Doenças autoimunes: algumas vasculites (inflamação dos vasos sanguíneos) como a granulomatose com poliangeíte ou a síndrome de Goodpasture podem afetar os pulmões e causar sangramento. 
  • Corpo estranho nas vias aéreas, especialmente em crianças. 
  • Fibrose cística. 

Vale mencionar que, em alguns casos, mesmo após investigação completa, a causa do sangramento não é encontrada. 

Sintomas da Hemoptise

A hemoptise é um sintoma, mas as características do sangue na tosse podem variar. A cor pode ir do vermelho vivo e brilhante (indicando sangue fresco, arterial) ao róseo e espumoso (sugerindo mistura com secreções pulmonares ou edema) ou mais escuro (sangue mais antigo ou venoso). 

Já em relação à quantidade, podem ser apenas “raias de sangue” misturadas ao escarro, pequenas quantidades de sangue puro, ou grandes volumes. E esse sangue pode ser líquido, coágulos, ou misturado com muco ou pus (escarro purulento). 

Riscos

A asfixia (sufocamento) é o risco mais grave e imediato da hemoptise maciça, ou seja, com expectoração de um grande volume de sangue. Este sangue pode preencher as vias aéreas, impedindo a respiração. A morte na hemoptise maciça geralmente ocorre por asfixia, e não pela perda de sangue em si. 

Embora menos comum que a asfixia, a hemoptise maciça também pode levar à queda da pressão arterial e choque hipovolêmico. 

Já sangramentos repetitivos ou crônicos, mesmo que em menor volume, podem levar à anemia por deficiência de ferro. 

É preciso ainda lembrar que a hemoptise é um sinal de uma doença subjacente. Se essa doença não for diagnosticada e tratada, ela pode progredir e levar a complicações graves. Por exemplo, um câncer de pulmão não tratado pode se espalhar, ou uma tuberculose não tratada pode destruir o tecido pulmonar. 

Quando procurar por um médico?

Em qualquer episódio de tosse com sangue, mesmo que seja uma quantidade pequena, o médico deve ser procurado. E, nos casos a seguir, com urgência: 

  • Tosse com grande volume de sangue (mais que algumas colheres de chá). 
  • Hemoptise acompanhada de dificuldade respiratória significativa ou falta de ar intensa. 
  • Dor no peito forte. 
  • Tontura, suor frio, palidez acentuada ou sensação de desmaio. 
  • Sangramento contínuo. 

Exames indicados para diagnosticar as causas

A escolha dos exames para diagnosticar a causa da hemoptise depende sempre das suspeitas levantadas pelo médico após a conversa e o exame físico do paciente. Por exemplo, um raio-x do tórax costuma ser um dos primeiros a ser pedido, pois pode fornecer uma visão geral dos pulmões e ajudar a identificar problemas mais evidentes como uma pneumonia extensa, uma massa tumoral maior ou sinais sugestivos de tuberculose.

Se o raio-x não for conclusivo ou se for necessário um detalhamento maior das estruturas pulmonares, dos vasos sanguíneos ou das vias aéreas, o médico pode solicitar uma tomografia computadorizada (TC) de tórax.

Já a broncoscopia é um exame mais invasivo, indicado quando se precisa olhar diretamente dentro dos brônquios para tentar localizar o ponto exato do sangramento, visualizar lesões como tumores ou inflamações e, se necessário, coletar amostras de tecido (biópsia) para análise.

Exames de escarro também podem ser úteis para investigar infecções, como a pesquisa do bacilo da tuberculose.

Formas de tratamentos

O tratamento da hemoptise é direcionado primariamente para a causa do sangramento. Ou seja: é preciso tratar a doença de base para acabar com o sintoma hemoptise. Por exemplo: antibióticos são administrados para pneumonias bacterianas ou tuberculose; quimioterapia, radioterapia ou cirurgia para câncer de pulmão; tratamentos específicos para insuficiência cardíaca ou embolia pulmonar.

Além de tratar a causa, há medidas para controlar o sangramento em si, especialmente se ele for volumoso (hemoptise maciça) ou persistente. Dentre elas, podemos destacar: 

Medidas gerais e de suporte 

  • Manter as vias aéreas do paciente desobstruídas. 
  • Repouso, muitas vezes deitando o paciente sobre o lado que se suspeita estar sangrando (para proteger o outro pulmão). 
  • Oxigenoterapia, se necessário. 
  • Supressores da tosse podem ser usados com cautela, pois a tosse ajuda a eliminar o sangue, mas uma tosse muito vigorosa pode piorar o sangramento. 

Broncoscopia Terapêutica

Durante a broncoscopia, além de diagnosticar, o médico pode tentar controlar o sangramento aplicando substâncias vasoconstritoras (que contraem os vasos), soro gelado, ou usando técnicas como eletrocautério ou laser para selar o vaso sangrante.

Embolização da Artéria Brônquica

Trata-se de um procedimento minimamente invasivo realizado por um radiologista intervencionista. Um cateter é inserido por uma artéria (geralmente na virilha) e guiado até a artéria brônquica que está suprindo o local do sangramento. Pequenas partículas ou molas são injetadas para bloquear essa artéria e parar o sangramento. É uma técnica muito eficaz para controlar hemoptises maciças ou recorrentes. 

Cirurgia

A intervenção cirúrgica é reservada para casos mais graves em que o sangramento não pode ser controlado por outros métodos, ou quando é necessário remover a parte doente do pulmão que está causando o sangramento (como um tumor, uma área de bronquiectasia localizada ou uma cavidade de tuberculose).

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