Microbiota intestinal: o que é e qual a sua função
Microrganismos do intestino têm funções digestivas, imunológicas, neurológicas e nutricionais
Existem vários microrganismos que habitam o seu corpo. No intestino, a gente pode estimar um número na casa dos trilhões, de acordo com a Universidade Harvard.
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Trilhões de bactérias, fungos, protozoários e vírus de milhares de espécies diferentes que exercem papéis fundamentais para a saúde humana. Esse conjunto de seres recebe o nome de microbiota intestinal.
“São microrganismos que compõem um ecossistema altamente diversificado de acordo com nossos hábitos de vida, como alimentação, sono, saúde mental e prática de atividade física – os quatro principais moduladores da microbiota intestinal”, afirma Alessandro Silveira, consultor de microbiologia clínica e molecular da Dasa Genômica e professor na Universidade Regional de Blumenau (Furb).
Além de ser afetada pelos nossos hábitos, a composição da microbiota intestinal é influenciada pela genética. Isso significa que cada indivíduo tem uma microbiota única, suscetível a variações conforme o estilo de vida.
Microbiota ou flora intestinal?
É mais provável que você já tenha ouvido falar em “flora intestinal” em vez de microbiota. Mas qual é o certo?
“Flora intestinal é um termo histórico, que a gente sempre utilizou para descrever essa comunidade de microrganismos que colonizam o nosso intestino”, esclarece Silveira. “Hoje, porém, é uma convenção utilizar o termo ‘microbiota’ para falar do conjunto de microrganismos e ‘microbioma’ para se referir aos genes dessa população microbiana”, diz.
Ou seja, “microbiota intestinal” é um termo mais atualizado e mais adequado. Mas isso não significa que seja incorreto falar em “flora intestinal”.
Qual a função da microbiota intestinal
São várias as funções da microbiota intestinal. Uma delas é auxiliar na digestão. Os microrganismos que vivem no intestino, além de digerirem substâncias que não conseguiríamos absorver, podem ajudar a destruir substâncias potencialmente agressivas à mucosa intestinal, como os aditivos alimentares.
E embora os microrganismos estejam no intestino, sua atuação não se limita a essa área do corpo. Sabe-se que existe uma comunicação entre o intestino e o cérebro, muito influenciada pela microbiota.
“Há alguns neurotransmissores (substâncias químicas responsáveis pela transmissão do impulso nervoso) que são produzidos majoritariamente pelas bactérias intestinais”, comenta Silveira. É o caso da dopamina, atrelada ao prazer, da serotonina, ligada à felicidade, e do GABA, relacionado à ansiedade.
A microbiota intestinal também é importante do ponto de vista nutricional. Isso porque ela sintetiza vitaminas, como as do complexo B e do complexo K, e aminoácidos.
Outro papel desempenhado pela microbiota é o de defesa. Os microrganismos servem como uma barreira de proteção da mucosa intestinal e apresentam substâncias para as nossas células imunes especializadas.
Tais microrganismos são tão relevantes para a imunidade que a ciência levanta a possibilidade de eles serem úteis enquanto estratégia no combate a algumas doenças, como a infecção causada pelo Sars-CoV-2.
Em artigo publicado na revista científica Nature em abril de 2022, pesquisadores sugerem que focar na microbiota intestinal pode ser benéfico para o tratamento da Covid-19 e da Covid longa – no entanto, ainda são necessários mais estudos para analisar a eficácia dessa abordagem.
Importância da microbiota intestinal
Nossa microbiota intestinal é composta por uma grande gama de microrganismos, sendo que muitos são benéficos para o nosso corpo e, em menor quantidade, há os patogênicos, que podem fazer mal à saúde. Se estiverem em equilíbrio, ambos os tipos coexistem sem problemas.
Uma microbiota intestinal equilibrada ajuda a garantir que as funções digestivas, imunológicas, neurológicas e nutricionais continuem funcionando bem. Por outro lado, se houver disbiose intestinal (desequilíbrio da microbiota), esses mecanismos podem ser prejudicados.
A disbiose é multifatorial – ou seja, não é causada por um único motivo. Estresse, sedentarismo, baixa qualidade do sono e elevado consumo de alimentos ultraprocessados e/ou ricos em açúcares favorecem o desequilíbrio da microbiota.
Outros elementos que podem contribuir para essa condição são infecções, quimioterapia, doenças autoimunes e hepáticas e uso de medicamentos (antibióticos, anti-inflamatórios e antiácidos, por exemplo).
E aí, uma vez configurada a disbiose, instala-se um quadro chamado intestino vazado (leaky gut). Marcada pelo aumento da permeabilidade intestinal, essa condição faz com que substâncias inadequadas cheguem até a corrente sanguínea, desencadeando uma resposta inflamatória.
“Esse processo é silencioso e, apesar de ser de baixo grau, é crônico e traz manifestações sistêmicas importantes para a pessoa. Essa inflamação crônica pode estar associada a aumento da resistência periférica à insulina, esteatose hepática, obesidade e maior suscetibilidade a infecções”, explica Silveira.
O que se sabe, atualmente, é que todas as doenças crônicas têm um envolvimento maior ou menor da microbiota intestinal. Os especialistas não estabelecem uma relação de causa e consequência, mas reconhecem que há uma associação.
O que fazer para melhorar a microbiota intestinal
A composição da microbiota intestinal é dinâmica e varia ao longo do tempo por causa de uma série de fatores individuais. O caminho para mantê-la em equilíbrio consiste em incorporar hábitos saudáveis à rotina.
“As quatro características básicas de uma pessoa com uma microbiota intestinal adequada são: sono de qualidade, prática regular de atividades físicas, manejo do estresse e alimentação saudável, natural e diversificada”, diz Silveira.
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Um sono de qualidade é aquele que é reparador e acontece à noite, em um ambiente escuro. No geral, adultos precisam de 7 a 9 horas de sono, segundo a ABS (Associação Brasileira do Sono).
Em relação às atividades físicas, a recomendação do Ministério da Saúde para adultos é de 150 minutos de atividades físicas de intensidade moderada por semana.
Quando falamos em alimentação saudável, estamos nos referindo a uma dieta baseada em alimentos in natura ou minimamente processados, com um cardápio diversificado. O ideal é limitar a presença de aditivos alimentares, agrotóxicos, processados e ultraprocessados, de acordo com o Ministério da Saúde.
Já cuidar da saúde mental é um processo mais individual. Mas é importante respeitar seus limites para evitar o estresse crônico, priorizar atividades que te fazem bem e, se necessário, procurar ajuda profissional.
Exame da microbiota intestinal
Cuidar da microbiota intestinal – e, consequentemente, do corpo – fica mais fácil quando você a conhece. E a ciência já sabe como fazer isso: pelo exame do microbioma intestinal, um teste de sequenciamento genético realizado com base em uma amostra de fezes.
Esse é um exame que consiste no sequenciamento do gene rRNA 16S, exclusivo das bactérias. A partir da análise do material, obtêm-se informações quantitativas e qualitativas sobre a microbiota intestinal.
São fornecidos dados sobre a diversidade bacteriana e a presença de bactérias benéficas (com atividade anti-inflamatória) e bactérias patogênicas (com atividade pró-inflamatória).
Conhecendo a composição da microbiota intestinal do paciente, o médico ou nutricionista terá mais subsídios para propor intervenções individualizadas e mais assertivas, propiciando melhores resultados para os pacientes.
É possível ter maior precisão ao sugerir uma alteração na dieta ou no estilo de vida, recomendar suplementos alimentares ou prescrever medicamentos.
“Melhorar a microbiota intestinal em pacientes com condições crônicas pode melhorar a manifestação clínica da doença”, constata Silveira. “Não estou falando de cura, mas de melhora na qualidade de vida”, ressalta.
O microbiologista também destaca alguns quadros que podem ser beneficiados com a melhora da saúde intestinal. São eles: obesidade, transtorno do espectro autista, doenças cardiovasculares, doenças alérgicas, doenças neurodegenerativas, câncer, infecção de repetição, endometriose, síndrome do ovário policístico e doenças autoimunes.