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EVALI: lesão pulmonar por vape pode exigir internação

Associada principalmente ao uso de cigarros eletrônicos com THC, a EVALI é uma condição que demanda atenção médica imediata

Fonte: Dr. Cesar de Araújo NetoRadiologista torácico e Diretor Médico na DasaPublicado em 06/06/2025, às 14:51 - Atualizado em 12/06/2025, às 11:11

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A crescente popularidade dos cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes, trouxe consigo novos problemas para a saúde. Entre eles, destaca-se a EVALI, uma condição pulmonar aguda e potencialmente grave, diretamente associada ao uso desses dispositivos. Conheça a seguir os sintomas, riscos e formas de tratamento para a doença.

EVALI: O que é?

EVALI é a sigla em inglês para “e-cigarette or vaping product use-associated lung injury”, que em português significa “lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico ou produtos de vape”. Trata-se de uma doença respiratória aguda ou subaguda, ou seja, que pode surgir de repente ou se desenvolver ao longo de alguns dias ou semanas, e está diretamente ligada ao hábito de vaporizar, ou seja, do uso do cigarro eletrônico.

A condição ganhou um espaço maior na mídia entre 2019 e o início de 2020, quando milhares de pessoas foram hospitalizadas nos Estados Unidos com problemas pulmonares graves após usarem cigarros eletrônicos. Desde então, a comunidade médica e científica tem se dedicado a entender melhor essa doença.

Vale mencionar que a EVALI não é uma simples irritação na garganta; estamos falando de uma lesão pulmonar séria que pode ter consequências graves se não for identificada e tratada a tempo.

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O que causa a EVALI?

A principal substância suspeita de causar a EVALI é o acetato de vitamina E (forma oleosa dessa vitamina) adicionado aos líquidos dos vapes – especialmente aqueles que contêm THC (tetrahidrocanabinol, o principal componente psicoativo da cannabis), seja para engrossar o produto seja para diluir o THC.

Quando essa substância oleosa é aquecida e inalada, ela parece interferir no funcionamento normal dos pulmões, mais especificamente no surfactante pulmonar, uma camada líquida que reveste os alvéolos e é essencial para a respiração.

Além disso, o acetato de vitamina E pode causar uma toxicidade direta no tecido pulmonar. Muitos dos casos de EVALI foram associados a vapes vendidos ilegalmente, e que são mais propensos a conter aditivos perigosos como o acetato de vitamina E.

Mas os cientistas não descartam que outras substâncias químicas presentes nos líquidos dos vapes, ou mesmo a combinação delas, possam contribuir para a lesão pulmonar. Lembrando ainda que, mesmo os vapes que contêm apenas nicotina (e não THC) não são inofensivos e carregam outras substâncias que podem prejudicar os pulmões.

Sintomas da EVALI

Dentre os sintomas de EVALI, os respiratórios são os mais comuns e incluem tosse (que pode ser seca ou produtiva), falta de ar progressiva, também conhecida como dispneia, e dor no peito. A falta de ar pode começar leve e piorar, chegando ao ponto de dificultar atividades simples do dia a dia.

Muitas pessoas com EVALI também apresentam problemas como náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal. E há ainda aqueles que apresentam febre, calafrios, fadiga extrema, perda de peso inexplicada, mal-estar geral, dor de cabeça e tontura.

Os sintomas geralmente se desenvolvem ao longo de alguns dias ou semanas, mas em alguns casos podem aparecer de forma mais rápida. Eles podem variar de pessoa para pessoa e, às vezes, podem ser confundidos com os de outras doenças respiratórias, como uma gripe forte ou pneumonia. Por isso, é fundamental estar atento, especialmente se você ou alguém próximo faz uso de cigarros eletrônicos.

Riscos

A EVALI pode causar danos significativos aos pulmões e um dos principais perigos é a progressão para uma insuficiência respiratória grave, onde os pulmões não conseguem mais fornecer oxigênio suficiente para o corpo. Isso pode levar à necessidade de internação hospitalar, muitas vezes em unidades de terapia intensiva (UTI), para receber suporte de oxigênio ou até mesmo ventilação mecânica.

A condição pode evoluir para a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA ou ARDS, na sigla em inglês), uma forma grave de insuficiência pulmonar com alta mortalidade.

Além do risco imediato à vida, ainda não se sabe completamente quais são os efeitos a longo prazo da EVALI nos pulmões. Alguns estudos e relatos sugerem que pode haver sequelas, como a formação de tecido cicatricial (fibrose) nos pulmões, o que poderia comprometer a função pulmonar de forma permanente.

Os jovens parecem ser particularmente vulneráveis, e o uso de produtos de THC de fontes não regulamentadas aumenta consideravelmente o risco. E, conforme já mencionado, mesmo os vapes sem THC contêm diversas substâncias químicas que podem ser nocivas à saúde pulmonar e geral.

Quando procurar por um médico?

Se você usa cigarros eletrônicos ou produtos de vape e começa a apresentar qualquer um dos sintomas que mencionamos – especialmente dificuldade para respirar, dor no peito, tosse persistente, febre, ou sintomas gastrointestinais como náusea e vômito – é fundamental procurar atendimento médico o mais rápido possível.

Na consulta médica, informe que tipo de produto você usa (com nicotina, com THC, saborizados, etc.), há quanto tempo usa, com que frequência, e se possível, de onde você obteve os produtos.  A detecção e o tratamento precoces podem fazer uma grande diferença no desfecho da doença.

Exames que auxiliam no diagnóstico

O diagnóstico da EVALI pode ser desafiador. Isso porque os sintomas se parecem com os de muitas outras doenças pulmonares. Frequentemente, após a anamnese na consulta, o médico solicita um raio-x do tórax, que pode mostrar sinais de inflamação ou acúmulo de líquido no pulmão.

No entanto, a tomografia computadorizada (TC) do tórax é geralmente mais sensível e fornece imagens mais detalhadas. Além disso, exames de sangue e outros testes laboratoriais são feitos para verificar sinais de inflamação e descartar outras causas possíveis para os sintomas, como infecções por vírus (gripe, covid-19) ou bactérias.

A EVALI é, em muitos casos, um diagnóstico de exclusão, o que significa que os médicos chegam a ele após descartarem outras condições conhecidas.

Nos casos mais graves ou quando o diagnóstico não está claro, pode ser realizada uma broncoscopia com lavado broncoalveolar (LBA). Nesse procedimento, um tubo fino com uma câmera na ponta é inserido pelas vias aéreas até os pulmões, e uma pequena quantidade de soro fisiológico é injetada e depois aspirada.

A análise desse líquido pode revelar a presença de macrófagos (células de defesa) carregados de lipídios (gordura) e, assim, detectar o acetato de vitamina E – o que reforça muito o diagnóstico de EVALI.

EVALI tem cura?

Essa é uma pergunta complexa. Se por “cura” entendermos a recuperação da fase aguda da doença e a melhora dos sintomas, então sim, a maioria dos pacientes com EVALI se recupera com o tratamento adequado e a interrupção completa do uso de cigarros eletrônicos.

Mas se “cura” for a ausência total de sequelas ou problemas de longo prazo, a resposta ainda não é totalmente clara. Como a EVALI é uma condição relativamente nova, os efeitos a longo prazo ainda estão sendo estudados.

Exista a preocupação de que alguns pacientes possam desenvolver problemas pulmonares crônicos, como fibrose pulmonar (cicatrizes nos pulmões), que podem afetar a capacidade respiratória de forma duradoura.

Tratamentos

O primeiro e mais importante passo do tratamento é interromper imediata e completamente do uso de qualquer tipo de cigarro eletrônico ou produto de vape. Não adianta tratar os sintomas se a causa da lesão pulmonar continuar.

Em seguida, vêm os cuidados de suporte. Muitos pacientes precisam de oxigenoterapia para ajudar a manter níveis adequados de oxigênio no sangue, já que os pulmões inflamados não conseguem fazer esse trabalho sozinhos de forma eficiente. Nos casos mais graves, quando há insuficiência respiratória severa, pode ser necessária a internação em UTI e o uso de ventilação mecânica.

Os corticosteroides são frequentemente utilizados no tratamento da EVALI, especialmente nos casos moderados a graves. Esses medicamentos ajudam a reduzir a inflamação nos pulmões e têm mostrado bons resultados na melhora dos sintomas e da função pulmonar.

Não existe algo específico para o acetato de vitamina E ou outras substâncias tóxicas inaladas; o tratamento é focado em controlar a inflamação e dar suporte ao organismo enquanto os pulmões se recuperam.

Após a alta hospitalar, é importante o acompanhamento médico para monitorar a recuperação da função pulmonar e discutir estratégias para evitar o retorno ao vaping.

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Fonte: Dr. Cesar de Araújo Neto – Radiologista

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