Lipase alta pode indicar problemas no pâncreas; exame de sangue ajuda no diagnóstico
A enzima é fundamental na digestão de gorduras. Níveis alterados podem sinalizar desde uma inflamação até condições mais graves.
Os níveis de lipase no sangue podem dizer muito sobre a saúde do pâncreas. Quando algo não vai bem com este órgão, o exame de lipase é fundamental para a investigação do quadro. Siga a leitura e saiba o que é a lipase, para que serve o exame e o que suas alterações podem significar.
Neste artigo, você vai ler:
Lipase: o que é?
A lipase é uma enzima digestiva que tem como função quebrar as moléculas de gordura (os triglicerídeos) em “pedaços” menores, facilitando a absorção pelo intestino delgado. Esse processo é essencial para que as gorduras possam ser absorvidas pelo nosso intestino e utilizadas pelo organismo como fonte de energia ou para outras funções vitais.
Embora pequenas quantidades de lipase sejam produzidas também pelo estômago e intestino, a grande parte vem do pâncreas, uma glândula localizada atrás do estômago. Este órgão libera enzimas como a lipase no intestino delgado e ainda tem funções hormonais (endócrinas), produzindo hormônios como a insulina.
Quando falamos do exame de lipase no sangue, geralmente nos referimos à lipase pancreática, pois é a alteração que geralmente indica problemas nesse órgão. Mas existem outros tipos de lipases no corpo, como a lipase lipoproteica (lpl), que atua no sangue quebrando gorduras presentes em lipoproteínas.
De toda forma, o exame de rotina para investigar dor abdominal ou suspeita de doença pancreática mede, predominantemente, a lipase produzida pelo pâncreas.
Para que serve o exame de Lipase?
O exame de lipase sérica (realizado no soro, a parte líquida do sangue) é fundamental para investigar doenças do pâncreas. Em geral, o médico solicita quando há sintomas como dor abdominal intensa e persistente – especialmente na parte superior do abdômen, que pode irradiar para as costas -, acompanhada ou não de náuseas, vômitos, febre e perda de apetite.
A principal indicação do exame de lipase é o diagnóstico e acompanhamento da pancreatite aguda, uma inflamação súbita do pâncreas. Nesses casos, os níveis de lipase no sangue costumam aumentar significativamente.
O exame também pode ser útil na investigação da pancreatite crônica (uma inflamação persistente do pâncreas), obstrução do ducto pancreático, câncer de pâncreas e outras condições que afetam este órgão.
Além disso, o exame de lipase pode ajudar a diferenciar as causas de uma dor abdominal, já que outras condições podem apresentar sintomas semelhantes aos de problemas pancreáticos.
Ele é considerado mais específico para doenças pancreáticas do que o exame de amilase (outra enzima produzida pelo pâncreas), embora frequentemente ambos sejam solicitados em conjunto.
Vale lembrar que outras condições que não as doenças pancreáticas também podem estar relacionadas à elevação da lipase.
Como o exame é feito?
O exame de lipase é simples e rápido. Basta a coleta de uma amostra de sangue, geralmente de uma veia do braço, como é feito em outros exames de sangue de rotina. Após a coleta, a amostra é enviada ao laboratório para análise.
Quanto ao preparo, é recomendado um jejum de 4 horas antes da coleta, mas o consumo de água é permitido. O consumo de bebidas alcoólicas deve ser evitado nas 24 horas que antecedem o teste.
É importante informar ao profissional de saúde sobre o uso de quaisquer medicamentos, pois alguns deles podem interferir nos resultados do exame de lipase.
Lipase baixa: o que pode ser?
Embora a lipase alta seja mais comum e preocupante, níveis baixos de lipase também merecem investigação quando compatível com o contexto clínico. A diminuição da lipase no sangue pode indicar um dano permanente às células do pâncreas responsáveis pela sua produção.
E isso pode acontecer em fases mais avançadas da pancreatite crônica, quando o pâncreas já sofreu um desgaste considerável e sua capacidade de produzir enzimas está comprometida.
Outra condição que pode levar à lipase baixa é a fibrose cística, uma doença genética que afeta múltiplos órgãos, incluindo o pâncreas, prejudicando a secreção de enzimas digestivas.
Além disso, alguns estudos sugerem que doenças que afetam a absorção intestinal ou causam dano pancreático secundário, como a doença celíaca ou a Doença de Crohn, também poderiam estar associadas a níveis reduzidos de lipase sérica em certas situações.
É importante ressaltar que a interpretação de níveis baixos de lipase deve ser feita pelo médico, considerando o quadro clínico completo do paciente e outros exames complementares.
Lipase alta: o que pode indicar?
Níveis altos de lipase no sangue são um sinal de alerta importante e, na maioria das vezes, estão relacionados a algum problema no pâncreas. A causa mais frequente de lipase alta é a pancreatite aguda, quadro em que a inflamação do pâncreas faz com que uma quantidade maior de lipase seja liberada na corrente sanguínea.
Os níveis de lipase podem aumentar de 4 a 8 horas após o início dos sintomas, atingir um pico em 24 horas e permanecer elevados por 8 a 14 dias.
As principais causas de pancreatite aguda são a presença de cálculos biliares (pedras na vesícula) que obstruem o ducto pancreático e o consumo excessivo de álcool.
Outras condições que podem causar lipase alta são:
- Pancreatite crônica: embora em fases tardias possa cursar com lipase baixa, nas fases iniciais ou durante agudizações, a lipase pode estar elevada.
- Obstrução do ducto pancreático: por cálculos, tumores ou cicatrizes, impedindo o fluxo normal das enzimas.
- Câncer de pâncreas: especialmente se o tumor obstruir o ducto pancreático ou causar inflamação.
- Colecistite aguda: inflamação da vesícula biliar
- Doença renal: rins comprometidos podem ter dificuldade em excretar a lipase, levando ao seu acúmulo no sangue.
- Obstrução ou infarto intestinal: problemas graves no intestino.
- Úlcera péptica perfurada: quando uma úlcera no estômago ou duodeno se rompe.
- Alcoolismo: mesmo sem pancreatite evidente.
- Caxumba: infecção viral que pode afetar o pâncreas.
- Doença celíaca e doenças inflamatórias intestinais, como a doença de Crohn, em algumas situações.
- Uso de certos medicamentos: como opioides (codeína, morfina), alguns anti-inflamatórios (indometacina), metilcolina e contraceptivos orais.
A causa da lipase alta deve sempre ser investigada por um médico, pois o tratamento dependerá do diagnóstico correto da condição subjacente.
Valores de Referência
Os valores de referência para a lipase sérica podem variar um pouco dependendo do laboratório e da metodologia utilizada. Mas, em geral, considera-se normal, no caso dos adultos, valores até 60 unidades por litro (u/l)
Lembre-se: apenas um médico pode interpretar corretamente os resultados do seu exame de lipase, correlacionando-os com seus sintomas, histórico de saúde e outros exames. Não tente se autodiagnosticar ou se automedicar com base apenas nos valores do exame.
Qual médico procurar?
Se você realizou um exame de lipase e os resultados vieram alterados, ou se está apresentando sintomas que sugerem algum problema no pâncreas, como dor abdominal intensa, o primeiro passo pode ser consultar um médico na emergência.
Ele poderá fazer uma avaliação inicial e, se necessário, encaminhá-lo a um especialista, que é o gastroenterologista. Este profissional é o mais indicado para investigar e tratar problemas relacionados ao pâncreas e ao sistema digestório.
Em casos específicos, como na suspeita ou diagnóstico de câncer de pâncreas, o acompanhamento deve ser com um oncologista. Se houver necessidade de intervenção cirúrgica, um cirurgião do aparelho digestivo pode ser envolvido.
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Fonte: Dra. Laura Lopes – Endocrinologista