Tadalafila: medicamento para disfunção erétil vira febre como pré-treino
Desenvolvido para tratar dificuldades de ereção e outras condições médicas, seu uso indiscriminado preocupa especialistas
Nos últimos anos, especialmente no Brasil, as vendas de tadalafila dispararam, com um crescimento reportado de até 20 vezes em uma década. Parte desse aumento não vem do uso para condições médicas, como disfunção erétil, mas sim recreativo. Muitos jovens têm usado a tadalafila como um suposto “pré-treino” para melhorar a performance na academia – o que acende um grande alerta para os riscos à saúde.
Neste artigo, você vai ler:
Tadalafila: o que é e para que serve?
A tadalafila é o princípio ativo de medicamentos que pertencem a uma classe conhecida como inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (pde5). Ela atua promovendo o relaxamento dos vasos sanguíneos e aumentando o fluxo de sangue para certas áreas do corpo. Por isso, ela é indicada para o tratamento da disfunção erétil.
No quadro, há uma dificuldade persistente em obter ou manter uma ereção firme o suficiente para uma relação sexual satisfatória. E a tadalafila ajuda a facilitar a ereção quando há estímulo sexual – ela não aumenta o desejo sexual (libido) nem provoca uma ereção espontânea sem estímulo.
Uma característica da tadalafila, que a diferencia de outros medicamentos para disfunção erétil, é sua longa duração de ação, podendo seus efeitos perdurarem por até 36 horas. Isso lhe rendeu o apelido de “pílula do fim de semana”.
Outras indicações aprovadas para a tadalafila são:
- Sintomas da hiperplasia prostática benigna (hpb): o aumento benigno da próstata, comum em homens mais velhos, pode causar dificuldades urinárias. E a tadalafila ajuda a relaxar os músculos da próstata e da bexiga, aliviando esses sintomas.
- Hipertensão arterial pulmonar (hap): em alguns casos, a tadalafila é utilizada para tratar essa condição séria em que há pressão alta nas artérias dos pulmões, ajudando a melhorar a capacidade de exercício em adultos.
Tadalafila pode ser usado como pré-treino?
Essa é uma das questões mais polêmicas e preocupantes envolvendo a tadalafila. Influenciadores digitais têm popularizado a ideia de que o medicamento pode funcionar como um “pré-treino”, supostamente melhorando o desempenho em atividades físicas e promovendo maior “pump” muscular (sensação de músculos inchados) devido à sua ação vasodilatadora.
No entanto, especialistas são categóricos em afirmar que não há comprovação científica sólida que justifique o uso da tadalafila para essa finalidade. A vasodilatação que ela provoca é direcionada para tecidos específicos relacionados às suas indicações aprovadas, e não há evidências de melhora significativa da performance ou ganho de massa muscular que compense os riscos.
Pelo contrário: o uso de tadalafila como pré-treino pode expor o usuário a efeitos colaterais desnecessários e perigosos, como dores de cabeça, tontura, queda de pressão e problemas cardiovasculares, especialmente se a pessoa já tiver alguma condição preexistente não diagnosticada.
O Conselho Federal de Educação Física (Confef) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já se manifestaram alertando para os perigos dessa prática. Recentemente, a Anvisa chegou a proibir a venda de produtos que continham tadalafila em formatos não convencionais, como balas de goma, que facilitavam o acesso e o uso indiscriminado.
Mulheres podem tomar Tadalafila?
A tadalafila não possui indicação aprovada para o tratamento de disfunção sexual feminina no Brasil. Embora existam relatos e alguns estudos sobre seu uso “off-label” (fora das indicações da bula) por mulheres, não há consenso científico nem evidências robustas que comprovem sua eficácia e segurança.
Mas a tadalafila é, sim, aprovada para o tratamento de hipertensão arterial pulmonar (HAP) tanto em homens quanto em mulheres. Portanto, uma mulher pode usar tadalafila se tiver essa condição específica e sob estrita orientação médica.
Para questões relacionadas à disfunção sexual feminina, o ideal é procurar um ginecologista ou especialista em sexualidade para uma avaliação e uma conversa sobre as opções de tratamento disponíveis e comprovadas.
O uso de Tadalafila pode causar infarto?
Essa é uma preocupação comum, e a resposta requer cautela. A tadalafila, por ser um vasodilatador, pode causar uma queda na pressão arterial. Em pessoas saudáveis e sem problemas cardíacos, o risco de a tadalafila por si só causar um infarto é considerado baixo quando usada corretamente e na dose recomendada.
No entanto, o perigo aumenta significativamente para indivíduos com doenças cardiovasculares preexistentes, como doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, arritmias ou histórico recente de infarto ou derrame. Nesses casos, a queda da pressão arterial induzida pela tadalafila pode ser perigosa, sobrecarregando o coração.
Um risco grave ocorre quando a tadalafila é usada concomitantemente com medicamentos chamados nitratos (usados para tratar angina, a dor no peito de origem cardíaca). A combinação pode levar a uma queda drástica e potencialmente fatal da pressão arterial.
Por isso, a avaliação médica antes de iniciar o uso de tadalafila é tão importante. O uso indiscriminado eleva o risco de eventos adversos graves.
Possíveis efeitos adversos
A tadalafila pode causar efeitos colaterais leves, mas também alguns graves, embora sejam mais raros. Entre os efeitos adversos mais comuns estão:
- Dor de cabeça;
- Vermelhidão no rosto (rubor facial);
- Congestão nasal;
- Dor nas costas;
- Dor muscular (mialgia);
- Indigestão ou desconforto abdominal (dispepsia);
- Refluxo gastroesofágico.
Já entre os feitos colaterais menos comuns ou que requerem atenção médica imediata, temos:
- Tontura severa;
- Alterações visuais (visão embaçada, sensibilidade à luz, ou em casos raros, perda súbita da visão associada à neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica);
- Perda auditiva súbita;
- Priapismo, uma ereção dolorosa e prolongada (mais de 4 horas), que é uma emergência médica e pode causar danos permanentes ao pênis se não tratada rapidamente;
- Coração acelerado (palpitações) ou dor no peito;
- Reações alérgicas (erupção cutânea, coceira, inchaço do rosto ou garganta, dificuldade para respirar).
Riscos do uso frequente de tadalafila
O uso frequente ou crônico de tadalafila, especialmente sem acompanhamento médico, traz uma série de riscos. Um dos principais perigos é a negligência com a causa real da disfunção erétil.
A dificuldade de ereção pode ser um sintoma de condições de saúde subjacentes, como diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, ou testosterona baixa. Ao usar tadalafila por conta própria para tratar o sintoma, a pessoa pode estar adiando o diagnóstico e o tratamento adequado dessas doenças de base, que podem se agravar com o tempo
Outros riscos importantes são:
- Dependência psicológica: o homem pode se sentir incapaz de ter uma relação sexual satisfatória sem o medicamento, mesmo que não precise dele fisicamente.
- Potencialização dos efeitos colaterais: quanto mais frequente o uso, maior a exposição aos possíveis efeitos adversos.
- Interações medicamentosas perigosas: quem usa tadalafila por conta própria pode não estar ciente das interações com outros medicamentos que esteja tomando, o que pode levar a consequências graves.
- Riscos cardiovasculares: para quem usa como pré-treino, há uma sobrecarga desnecessária ao sistema cardiovascular, especialmente durante o esforço físico intenso.
Para quem o tadalafila não é indicado?
Existem contraindicações importantes para o uso da tadalafila:
- Pessoas que utilizam medicamentos contendo nitratos (geralmente para dor no peito/angina), como isossorbida, nitroglicerina. A combinação é extremamente perigosa e pode causar queda abrupta da pressão.
- Pacientes com doenças cardiovasculares graves não controladas, como insuficiência cardíaca grave, arritmias instáveis, angina instável, ou que tiveram infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC) recentes (nos últimos 3 a 6 meses, dependendo da orientação médica).
- Indivíduos com pressão arterial muito baixa (hipotensão) ou pressão alta não controlada (hipertensão).
- Portadores de algumas doenças oculares raras e hereditárias, como a retinite pigmentosa.
- Pessoas com insuficiência hepática (fígado) ou renal grave.
- Aqueles que têm alergia conhecida à tadalafila ou a qualquer componente da fórmula.
- Pacientes com histórico de priapismo ou condições que predisponham ao priapismo (como anemia falciforme, mieloma múltiplo ou leucemia).
Tratamentos para a disfunção erétil
A disfunção erétil é uma condição multifatorial e uma abordagem eficaz geralmente envolve identificar e tratar as causas subjacentes. Dentre as opções de tratamento, temos:
- Mudanças no estilo de vida: adotar uma dieta saudável, praticar exercícios físicos regularmente, parar de fumar, reduzir o consumo de álcool e controlar o estresse podem ter um impacto significativo na função erétil.
- Tratamento de condições médicas subjacentes: controlar o diabetes, a hipertensão arterial, as doenças cardíacas e os níveis de colesterol é fundamental. A reposição hormonal em casos de testosterona baixa comprovada também pode ser uma opção, mas deve ser feita com acompanhamento médico.
- Psicoterapia e aconselhamento sexual: muitas vezes, fatores psicológicos como ansiedade, depressão, estresse ou problemas de relacionamento contribuem para a disfunção erétil. A terapia pode ajudar a abordar essas questões. É importante notar que a tadalafila não trata a falta de libido (desejo sexual), que pode ter origens psicológicas ou hormonais.
- Medicamentos orais: além da tadalafila, existem outros inibidores da pde5, como a sildenafila, vardenafila e avanafila, com diferentes perfis de duração e efeitos colaterais.
- Terapias locais: incluem medicamentos injetáveis diretamente no pênis (injeções intracavernosas) ou supositórios uretrais.
- Dispositivos de vácuo: criam uma ereção mecanicamente.
- Cirurgia: em casos raros e específicos, o implante de prótese peniana pode ser uma opção.
A escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada e decidida em conjunto com um médico especialista, como um urologista.
Importância dos exames de rotina
Muitos homens não sabem, mas a disfunção erétil pode ser um dos primeiros sinais de alerta para problemas de saúde mais sérios, especialmente doenças cardiovasculares e diabetes. As mesmas condições que afetam os vasos sanguíneos do coração e do cérebro podem afetar os vasos do pênis, dificultando a ereção.
Por isso, os exames de rotina e os check-ups médicos regulares são fundamentais para:
- Detectar precocemente doenças como diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia (colesterol alto) e problemas cardíacos.
- Avaliar níveis hormonais, incluindo a testosterona, que pode estar relacionada tanto à libido quanto à função erétil.
- Identificar fatores de risco para disfunção erétil e outras condições.
- Permitir o tratamento precoce das doenças de base, o que pode, inclusive, melhorar ou resolver a disfunção erétil sem a necessidade de uso contínuo de medicamentos como a tadalafila.
Um check-up abrangente pode incluir exames de sangue para verificar glicemia, colesterol total e frações, triglicerídeos, função renal e hepática, níveis de testosterona, além da aferição da pressão arterial e avaliação do histórico cardiovascular.
Pacotes de exames de rotina, muitas vezes chamados de “check-up masculino”, são uma ferramenta para monitorar a saúde. E, ao cuidar da saúde geral, o homem cuida também da saúde sexual.
Fontes: Dr. Eduardo Arnaldi – Urologista e Dr. Jaime Kulak – Ginecologista