Câncer de próstata: tudo que você precisa saber
O tipo mais frequente é o adenocarcinoma, responsável por cerca de 95% de todos os casos diagnosticados
No Brasil, o câncer de próstata é o tipo de tumor mais comum entre os homens (excetuando-se os tumores de pele), e a incidência aumenta com o envelhecimento, de modo que se vivêssemos mais de 100 anos, provavelmente todos os homens teriam esse tipo de câncer.
Neste artigo, você vai ler:
Existem grandes desafios, como (1) o fato de a doença ser assintomática em sua fase inicial, (2) ser muito prevalente e (3) existirem formas muito indolentes da doença. A detecção e tratamento precoce garantem altas taxas de cura, caso oposto aos tumores diagnosticados em fases avançadas. E é justamente isso que torna o acompanhamento médico regular tão importante.
Siga a leitura e saiba quais exames contribuem para detecção da doença e quais as principais abordagens terapêuticas.
O que é a próstata?
A próstata é uma glândula que faz parte do sistema reprodutor masculino e tem o tamanho de uma noz, pesando cerca de 25 g. Ela fica localizada na frente do reto e embaixo da bexiga. Entre as suas principais funções estão produzir o líquido seminal, que protege e nutre os espermatozoides no sêmen.
A seguir, você confere detalhes sobre o que causa o câncer de próstata, formas de tratamento e a importância do diagnóstico precoce.
O que causa e como ocorre o câncer de próstata?
A doença acontece quando há uma multiplicação desordenada de um clone de um células da próstata. Com o tempo, e sem tratamento, elas podem se espalham para outras partes do corpo, provocando metástase e aumentando a taxa de morbidade e mortalidade.
Vale ressaltar que existe outra condição benigna de aumento do volume da próstata, chamada hiperplasia prostática benigna (HPB), que difere do câncer de próstata. Esta condição cursa com sintomas de obstrução do trato urinário, como por exemplo jato urinário fraco e acordar a noite para urinar várias vezes.
Tipos de câncer de próstata
O câncer de próstata não é uma condição única. E o tipo mais frequente é o adenocarcinoma, responsável por cerca de 95% de todos os casos diagnosticados.
Este tumor tem origem nos ácinos da próstata, que são responsáveis pela produção do líquido seminal.
A agressividade do adenocarcinoma é medida pela Escala de Gleason (determinada por um patologista ao analisar fragmentos da biópsia), que varia de 6 (menos agressivo) a 10 (mais avançado), o que ajuda os médicos a definirem o melhor tratamento. Alternativamente pode ser utilizada a escala de ISUP, onde 1 é o mais indolente e o 5 o mais agressivo.
Além do adenocarcinoma, existem outros tipos de câncer de próstata mais raros. Entre eles estão:
- Carcinoma de pequenas células (ou carcinoma neuroendócrino de pequenas células da próstata): com alta agressividade, embora represente apenas cerca de 1% dos diagnósticos;
- Tumores neuroendócrinos;
- Carcinomas de células de transição: eles se originam nas células que revestem o trato urinário;
- Sarcomas, que se desenvolvem nos tecidos conjuntivos da próstata.
Fatores que aumentam o risco do câncer de próstata
Idade
O câncer de próstata costuma atingir homens mais velhos, acima de 50 anos. É possível surgir antes dessa faixa etária, mas são casos mais raros.
Hereditariedade e histórico familiar
Homens com algum parente de primeiro grau (como pais ou irmãos) que tiveram câncer de próstata estão mais suscetíveis ao problema.
Predisposição genética
Aproximadamente 12% das pessoas com câncer de próstata metastático e 6% das que têm a doença localizada na próstata (de alto risco) têm uma predisposição genética identificada.
No caso do câncer de próstata, dois importantes genes, BRCA1 e BRCA2, foram descobertos como os associados aos tumores, quando sofrem mutação. Uma forma da detecção da mutação nesses genes é feita por meio de uma amostra de DNA, que pode ser de sangue ou saliva, para posterior análise em laboratório.
Raça
Homens negros e afrodescendentes correm mais risco pelo fator genético e tendem a desenvolver tumores mais agressivos.
Obesidade, tabagismo e consumo de álcool
O consumo de álcool e tabagismo está associado a maior risco da doença. Além disso, homens obesos também têm mais chances de desenvolver câncer de próstata.
Alimentação inadequada
A alimentação também é um fator que pode contribuir para o surgimento da doença. Consumir itens pouco saudáveis (como gorduras em excesso, alimentos ultraprocessados) podem aumentar o risco de desenvolver a doença.
Alguns nutrientes (como licopeno, presente no tomate, vitamina E e selênio) podem ter fator protetivo contra o câncer de próstata. No entanto, faltam estudos que comprovem o benefício.
A recomendação dos especialistas é manter uma alimentação saudável e balanceada para prevenir qualquer tipo de câncer.
Quais são os sintomas do câncer de próstata?
Na maioria das vezes, o câncer de próstata é assintomático na fase inicial. Conforme ele avança, podem surgir alguns sintomas que devem ser avaliados. Entre eles, estão:
- Necessidade de urinar com mais frequência, principalmente à noite;
- Fluxo urinário fraco e demorado;
- Sensação de não conseguir esvaziar completamente a bexiga;
- Dificuldade em começar a urinar;
- Dor nas costas (em caso de câncer metastático);
- Sangue na urina ou sêmen;
- Ardência ou dor ao urinar;
- Dor ao ejacular.
Vale ressaltar de novo que muitos desse sintomas estão presentes na condição benigna de aumento da próstata, discutida a seguir e a avaliação médica deve ser sempre indicada.
Próstata aumentada indica câncer de próstata?
Não. Ter a próstata aumentada, condição conhecida clinicamente como hiperplasia prostática benigna (HPB), não significa que um homem tem ou terá câncer de próstata. São problemas distintos, com causas e tratamentos diferentes.
A hiperplasia prostática benigna é o aumento natural da glândula que ocorre com o envelhecimento da maioria dos homens, podendo causar dificuldades para urinar. Por outro lado, o câncer de próstata é o crescimento desordenado de células malignas na glândula.
Embora essas condições possam apresentar sintomas urinários semelhantes em alguns casos, a HPB não é considerada um fator de risco para o desenvolvimento do câncer.
Diagnóstico do câncer de próstata
Um dos maiores desafios no combate e prevenção ao câncer de próstata é cultural: geralmente, os homens vão menos ao médico e muitos têm preconceito em relação aos exames de rastreamento.
Mas, ao detectar o câncer nos estágios iniciais, as chances de cura são mais altas e os tratamentos menos agressivos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), homens a partir de 45-50 anos (sem fatores de risco) devem procurar um urologista para realização de toque retal e dosagem de PSA (antígeno prostático específico).
Para aqueles que possuem casos de câncer na família (ou que apresentem processos inflamatórios na próstata), a consulta com urologista deve iniciar ainda mais cedo, a partir dos 40 anos de idade.
A frequência do exame é bastante variável, podendo ser anual ou mesmo a cada 4 anos. O urologista é quem determina a periodicidade de acordo com o histórico do paciente.
A seguir, veja detalhes dos exames que identificam o câncer de próstata:
Toque retal
Durante a consulta com o urologista, o homem realiza o exame de toque retal para avaliar alguma alteração na próstata. Com luva e lubrificante, o especialista introduz o dedo indicador no ânus do indivíduo para analisar a presença de alterações no formato e consistência da glândula.
O exame em si é rápido e indolor, demora cerca de 10 segundos. Na palpação da próstata, é possível sentir 70% dela e, se houver uma área endurecida e irregular é preciso avaliar.
PSA
Além do toque retal, é importante realizar um exame chamado de antígeno prostático específico (PSA, na sigla em inglês), que é um marcador valioso para o câncer de próstata.
Trata-se de uma proteína produzida pelo tecido prostático. Se o homem tem tecido prostático, tanto benigno quanto maligno, será detectado no exame de sangue.
À medida que o tamanho da próstata aumenta, a concentração de PSA também cresce. Mas vale destacar que nem sempre uma alteração no PSA indica câncer. A confirmação do diagnóstico de câncer de próstata necessita de um estudo anatomopatológico de fragmentos da glândula, conhecida como biópsia.
Exames de imagens
O especialista pode solicitar exames de imagem para definir quais pacientes necessitam seguir para uma biópsia. Dentre eles, a ressonância magnética tem papel fundamental nessa triagem. Resultados são avaliados numa escala de PI-RADS de 1 a 5, onde 1 é a menor e 5 a maior probabilidade de existir câncer de próstata. Geralmente resultados de 4 e 5 seguem para a biópsia, 1 e 2 continuam no seguimento anual e PI-RADS 3 é tratado de forma individualizada.
Biópsia
Após a alteração nos exames de rastreamento, o urologista pode solicitar uma biópsia da próstata para confirmar o diagnóstico. Trata-se da retirada de uma amostra do tecido da glândula com anestesia por meio de uma agulha. Em seguida, esse material é encaminhado para análise patológica.
Caso o resultado for positivo, também é possível determinar se o câncer de próstata é mais agressivo e qual é a melhor forma de tratamento.
Quais são os tratamentos para o câncer de próstata?
As medidas terapêuticas variam, dentre outros fatores, com o estágio da doença.
Os tratamentos se dividem em cirurgias, quando se extirpa toda a glândula, ou irradiação na próstata, radioterapia localizada e, por último, quando o câncer está mais disseminado, pode ser indicada a hormonioterapia com quimioterapia.
Em casos de tumores de baixa agressividade, há a opção da vigilância ativa, na qual se faz o monitoramento da evolução da doença, intervindo se houver progressão.
A seguir, veja detalhes dos tratamentos para o câncer de próstata:
Cirurgia
A prostatectomia radical é uma cirurgia de remoção da próstata e vesículas seminais e linfonodos regionais, em alguns casos. A próstata deve ser retirada completamente. As complicações cirúrgicas mais comuns e temidas são a disfunção erétil e incontinência urinária.
Atualmente, a prostatectomia radical tem sido realizada por meio de cirurgia robótica, que oferece maior precisão e menos complicações no pós-operatório.
Radioterapia
Pode ser externa ou interna (braquiterapia). No primeiro caso, o foco é o tumor de próstata, que é enquadrado no campo de radiação, com ajuda de exames de imagem e de cálculos matemáticos.
Já a braquiterapia é uma técnica que consiste na aplicação de “sementes radioativas” no interior da próstata, no reto, sob anestesia.
Hormonioterapia
O objetivo dessa medida terapêutica é controlar o câncer (e não curar). É indicada para pacientes em que a doença não está mais apenas localizada e envolve outros órgãos.
Nesses casos, o intuito é privar o organismo da testosterona (hormônio masculino, que “alimenta” o câncer de próstata. Geralmente, esse bloqueio ocorre com o uso de medicamentos injetáveis.
Entre os efeitos colaterais, estão: perda da ereção, diminuição da libido, da massa muscular e óssea e aumento do risco de doenças cardiovasculares.
Quimioterapia
Geralmente, é usada em pessoas que não tiveram a resposta ao tratamento hormonal. São aplicados medicamentos quimioterápicos via endovenosa (na veia) para reduzir a massa tumoral e com o objetivo de controlar a doença.
Câncer de próstata tem cura?
Sim! É assustador receber o diagnóstico da doença. Mas ao ser detectada precocemente, as chances de cura são altas.
Vale a pena saber que o estágio em que o câncer está faz a diferença tanto nas chances de sobreviver quanto na opção de tratamento.
Estádios do câncer de próstata
Abaixo, veja detalhes do estadiamento (localização e a extensão) do câncer de próstata:
- Estádios I e II: a doença está restrita à próstata e não invade outros órgãos.
- Estádios III e IVA: o tumor infiltra os tecidos ao redor da próstata, como vesícula seminal, reto, bexiga ou atinge os linfonodos pélvicos.
- Estádio IVB: quando o câncer atinge os ossos ou outros órgãos (metástase).
O que é recidiva do câncer de próstata?
É importante destacar que, mesmo depois da cura, há casos de tumores da próstata que podem voltar a aparecer após o tratamento inicial. Essa situação é conhecida como recidiva do câncer. O risco é maior em tumores que já são inicialmente mais avançados.
“Todos os homens que receberam um diagnóstico de câncer de próstata devem fazer exames e acompanhamento regular. Muitas vezes, o paciente deve se consultar com o especialista por vários anos para garantir que não há risco que o câncer volte”, diz Meller.
Câncer de próstata causa infertilidade masculina?
A doença pode levar à infertilidade masculina. Isso acontece porque o câncer em si e, especialmente, os tratamentos usados para combatê-lo podem afetar a capacidade reprodutiva.
O próprio tumor pode comprometer a função da próstata, que é responsável pela produção de parte do líquido seminal, fundamental para nutrir e transportar os espermatozoides.
Além disso, os tratamentos como radioterapia, hormonioterapia e quimioterapia podem interferir na produção ou na qualidade dos espermatozoides.
Em situações em que a remoção cirúrgica da próstata (prostatectomia) é necessária, a produção do líquido seminal é diretamente afetada, o que também pode resultar em infertilidade.
Pacientes ainda com desejo reprodutivo devem conversar com seus médicos sobre as opções de preservação da fertilidade antes de iniciar o tratamento contra o câncer de próstata.
Formas de prevenção
De maneira geral, a melhor forma de prevenir o câncer de próstata é manter hábitos saudáveis por toda vida. Entre as medidas recomendadas, estão:
Manter uma alimentação saudável
É importante ter uma dieta balanceada, com baixo teor de gordura e boa oferta de frutas, verduras, legumes e alimentos integrais.
Abandonar o sedentarismo
Praticar atividade física regular ajuda a melhorar a saúde de forma geral. Um organismo saudável tem menos riscos de sofrer alterações nas células, o que pode desencadear o aparecimento do câncer, além de contribuir com o peso.
Evitar a obesidade
Ninguém escolhe estar acima do peso. Mas por ser uma doença multifatorial, as pessoas com sobrepeso e obesidade devem buscar ajuda profissional para emagrecer. Sabe-se que o excesso de peso é um fator que contribui com a doença.
Não fumar e nem beber
O consumo de bebida alcoólica em excesso e o tabagismo danificam o DNA e as suas proteínas, aumentando o risco para o surgimento do câncer de próstata.
Realizar consultas de rotina
É importante colocar na agenda a consulta anual com o seu médico. A saúde da próstata deve estar inserida num contexto maior de promoção de saúde, mudança de hábitos e estilo de vida. Dedicar tempo ao nosso corpo é de fundamental importância para o equilíbrio.
Publicado em 10/11/2022
Atualizado em 26/06/2025