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    Semaglutida: medicamento vem revolucionando o tratamento do diabetes e da obesidade

    Agindo como hormônio intestinal, ele promove saciedade e controle glicêmico, mas uso exige orientação e acompanhamento médico

    Por Danielle SanchesPublicado em 21/05/2025, às 16:47 - Atualizado em 21/05/2025, às 17:01

    semaglutida

    A semaglutida se tornou um grande aliado do tratamento do diabetes tipo 2 e, mais recentemente, da obesidade. Nomes como Ozempic e Wegovy ganharam a mídia e a atenção da comunidade médica. Mas, afinal, o que é a semaglutida? Como ela age no nosso corpo e para quem ela é realmente indicada?

    Semaglutida: o que é e para que serve?

    A semaglutida pertence a uma classe de medicamentos chamados análogos do GLP-1, ou seja, que imitam o hormônio intestinal denominado peptídeo semelhante ao glucagon do tipo-1. Este hormônio, que o corpo produz quando nos alimentamos, tem várias funções importantes, entre elas, diminuir a velocidade do esvaziamento do  estômago (prolongando a sensação de saciedade) e atuar em áreas do cérebro que controlam o apetite.

    O GLP-1 ainda avisa o pâncreas para liberar insulina (que ajuda a baixar o açúcar no sangue) e reduz a produção de glucagon, outro hormônio que aumenta o açúcar no sangue.

    A semaglutida imita a ação do GLP-1 natural, mas com uma grande vantagem: ela dura muito mais tempo no nosso organismo. Enquanto o GLP-1 que produzimos é degradado rapidamente (em minutos), a semaglutida permanece ativa por vários dias.

    Por causa desses mecanismos, a semaglutida serve principalmente para: 

    • Tratamento do diabetes tipo 2: ao estimular a liberação de insulina quando a glicose está alta e reduzir a liberação de glucagon, ela ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue em pacientes com diabetes. Também pode ajudar a melhorar a resistência à insulina indiretamente, ao promover a perda de peso.
       
    • Tratamento da pessoa com obesidade ou com sobrepeso associado a comorbidades: como ajuda a reduzir o apetite e promover saciedade, levando a uma ingestão calórica menor, a semaglutida (em doses específicas) foi aprovada para o tratamento da obesidade e para o controle de peso em adultos com sobrepeso que tenham pelo menos uma condição associada ao peso, como pressão alta ou diabetes tipo 2. 

    Além disso, estudos mais recentes têm demonstrado benefícios cardiovasculares da semaglutida em pacientes com diabetes e alto risco cardíaco e efeitos positivos em casos de gordura no fígado (esteatose hepática) associada à obesidade.

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    Quando a semaglutida é indicada?

    A semaglutida é um medicamento que exige prescrição e acompanhamento médico rigoroso. Sua indicação depende da condição a ser tratada e do perfil do paciente. Mas pode ser indicada em dois casos:

    Diabetes mellitus tipo 2

    Geralmente é indicada para adultos cujo diabetes não está adequadamente controlado com dieta, exercícios e outros medicamentos orais (como a metformina), ou quando esses outros medicamentos não são tolerados ou são contraindicados. 

    Pode ser usada isoladamente ou em combinação com outros antidiabéticos. 

    A escolha de iniciar a semaglutida e em que momento do tratamento do diabetes isso ocorre é uma decisão médica individualizada. 

    Obesidade ou sobrepeso com comorbidades: 

    É indicada para adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) de 30 kg/m² ou mais (obesidade). Ou então para adultos com IMC de 27 kg/m² ou mais (sobrepeso) que apresentem pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso, como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, dislipidemia (colesterol ou triglicerídeos altos), apneia obstrutiva do sono, entre outras. 

    O tratamento para perda de peso com semaglutida deve sempre ser associado a um plano de alimentação saudável e aumento da atividade física. 

    É preciso ressaltar que a semaglutida não é uma solução mágica nem um medicamento para quem busca perder “apenas alguns quilinhos” por questões estéticas, sem indicação médica. Seu uso deve ser criterioso e fazer parte de um plano de tratamento abrangente. 

    Formas de administração da semaglutida 

    Atualmente, a semaglutida está disponível no mercado em duas formas principais de administração: 

    Injetável (subcutânea)

    Essa é a forma mais conhecida, administrada através de uma injeção sob a pele (subcutânea), geralmente na região do abdômen, coxa ou braço. A aplicação é semanal, ou seja, uma vez por semana, no mesmo dia escolhido pelo paciente. Exemplos de nomes comerciais para a semaglutida injetável incluem Ozempic® e Wegovy®.

    Oral (comprimidos)

    Existe também a versão da semaglutida em comprimidos para administração oral, conhecida pelo nome comercial Rybelsus®. Ela é indicada para o tratamento do diabetes tipo 2. 

    A administração é diária, geralmente pela manhã, em jejum, com um pouco de água. É preciso esperar pelo menos 30 minutos antes de comer, beber ou tomar outros medicamentos orais para garantir a absorção correta. 

    A escolha da forma de administração e da dose adequada é sempre uma decisão médica, baseada nas necessidades e características de cada paciente.

    Qual médico pode orientar o uso da semaglutida?

    O uso da semaglutida deve ser sempre orientado e acompanhado por um médico e o especialista mais habilitado seria o endocrinologista, que é o profissional especializado em hormônios, metabolismo, diabetes e obesidade. 

    Outros médicos, como cardiologistas (especialmente se houver foco nos benefícios cardiovasculares em pacientes diabéticos) ou clínicos gerais com experiência e conhecimento aprofundado no tratamento do diabetes e da obesidade, também podem, em alguns contextos, acompanhar pacientes em uso de semaglutida.

    Exames indicados para acompanhar os efeitos

    Antes e durante o tratamento com a semaglutida, o médico deve pedir uma série de exames para avaliar a saúde geral, monitorar a eficácia do medicamento e detectar precocemente qualquer possível efeito adverso.

    Essa avaliação é individualizada e começa com uma avaliação inicial completa, e que inclui: 

    • Histórico de saúde detalhado, incluindo doenças preexistentes, cirurgias, alergias e uso de outros medicamentos.  
    • Histórico familiar de doenças, especialmente de câncer medular de tireoide (CMT) ou síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (MEN 2).  
    • Exame físico completo, incluindo medição de peso, altura, IMC e circunferência abdominal. 

    Então, antes do início do tratamento, deve solicitar exames como:  

    • Glicemia de jejum e hemoglobina glicada (HbA1c), para avaliar o controle do diabetes ou o status glicêmico inicial. 
    • Perfil lipídico (colesterol total e frações, triglicerídeos). 
    • Função renal (creatinina, ureia, estimativa da taxa de filtração glomerular). 
    • Função hepática (enzimas do fígado como TGO/AST, TGP/ALT). 

    Em alguns casos, o médico pode solicitar exames da tireoide (como ultrassonografia ou dosagem de calcitonina) se houver alguma preocupação específica, devido ao risco teórico de tumores de células C da tireoide observado em estudos com roedores. 

    Amilase e lipase (enzimas pancreáticas) podem ser verificadas se houver histórico ou suspeita de pancreatite. 

    Já durante o tratamento, alguns exames auxiliam no monitoramento: 

    • Acompanhamento regular do peso e IMC (para quem usa para obesidade). 
    • Monitoramento da glicemia capilar (ponta de dedo) e da hemoglobina glicada (para pacientes com diabetes). 
    • Repetição periódica dos exames de função renal e hepática, conforme avaliação médica. 
    • Monitoramento da pressão arterial e perfil lipídico. 
    • Avaliação contínua de possíveis efeitos colaterais. 

    A frequência e a escolha exata dos exames de acompanhamento são definidas pelo médico. 

    Possíveis efeitos adversos da semaglutida 

    Como todo medicamento, a semaglutida pode causar efeitos adversos. A maioria é de natureza gastrointestinal e tende a ser mais comum no início do tratamento ou quando a dose é aumentada, diminuindo com o tempo para muitas pessoas. 

    Os efeitos gastrointestinais mais comuns são: 

    • Náuseas; 
    • Vômitos; 
    • Diarreia; 
    • Constipação (prisão de ventre); 
    • Dor abdominal; 
    • Sensação de inchaço ou plenitude gástrica (o esvaziamento mais lento do estômago contribui para isso); 
    • Arrotos e/ou gases; 
    • Refluxo ou azia; 
    • Dor de cabeça; 
    • Fadiga (cansaço); 
    • Tontura. 

    Vale mencionar ainda o chamado “rosto de Ozempic“. O termo ficou popular e descreve a perda de gordura facial que pode ocorrer com o emagrecimento rápido induzido pela semaglutida. Dessa forma, a pele do rosto tende a ficar mais flácida e, a aparência, mais envelhecida. 

    E, assim como em qualquer processo de emagrecimento significativo, pode haver perda de massa muscular junto com a gordura se não houver um consumo adequado de proteínas e a prática de exercícios de fortalecimento. 

    Há ainda a possibilidade de efeitos adversos mais sérios. Eles são raros, mas podem acontecer: 

    • Pancreatite aguda: inflamação do pâncreas. Dor abdominal forte e persistente, que pode irradiar para as costas, acompanhada de náuseas e vômitos, e que deve ser investigada imediatamente. 
    • Problemas na vesícula biliar: como cálculos biliares (pedra na vesícula) ou inflamação da vesícula (colecistite). 
    • Problemas renais: há relatos de lesão renal aguda, muitas vezes associada à desidratação por vômitos ou diarreia intensos. Por isso, manter-se hidratado/a é importante. 
    • Retinopatia diabética: em pacientes com diabetes e retinopatia preexistente, uma melhora muito rápida do controle glicêmico pode, paradoxalmente, levar a uma piora temporária da retinopatia no início. Um acompanhamento oftalmológico é recomendado. 

    Além disso, em estudos com roedores, foi observado o risco para tumores de células C da tireoide. Em humanos, a relação não é clara, mas por precaução, a semaglutida é contraindicada para pessoas com histórico pessoal ou familiar de CMT ou com síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2. 

    O risco de hipoglicemia (baixa de açúcar no sangue) com a semaglutida é geralmente baixo quando ela é usada isoladamente. Mas ele aumenta se ela for combinada com outros medicamentos para diabetes que podem causar hipoglicemia, como a insulina ou as sulfonilureias. 

    É fundamental discutir todos os potenciais riscos e benefícios com o médico antes de iniciar o tratamento e reportar qualquer efeito colateral que apareça ao longo do tratamento.

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    Fonte: Dra. Clarisse Ponte – Endocrinologista

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